Monday, January 31, 2011

7 dias #9: rescaldo

Eu joguei volleyball federado durante alguns anos.
Primeiro pelo extrenato onde estudei. Depois pelo Sport Lisboa e Benfica.

No meu ido nono ano, representava eu o clube do meu coração num torneio na Madeira quando a meio de um jogo, uma bola vem na direcção do meu peito. Eu fiz um passe por cima quando deveria ter feito uma manchete. (A quem não sabe o que é, apresento-vos o http://www.google.com/). Resultado? A bola embateu nas minhas mãos num ângulo que me rasgou um ligamento no polegar direito.

Deixei de jogar a partir desse jogo, desse torneio e nunca mais voltei.
Agora, e mediante doses de pontaria e azar, há pancadas ou gestos no e do meu polegar que me dão dores a roçar o estúpido. Não consigo praticamente mexer a mão direita e usar o polegar é quase tão doloroso como fazer a depilação genital com um maçarico. Há vários meses que não me acontecia. Aconteceu ontem durante um jogo de basket.

Porque estou a explicar isto? Por duas razões.
A primeira é a de que, apesar de inúteis, parvos e imbecis, estes meus desafios têm tido uma ironia sarcástica e divina que merece destaque. Na semana em que evito elevadores, o do local onde trabalho avaria. Na semana em que me dedico a ser canhoto, fico 48 horas sem conseguir mexer a mão direita. Acho que estes desafios vão acabar comigo morto.
A segunda é porque esta minha lesão anda há anos a fazer de mim um pouco ambidextro. Sempre joguei desportos que me obrigavam a usar ambas as mãos e este pequena grande falta de ligamento serviu, ao longos dos anos e das dores, para aprender a me desenvencilhar com a mão esquerda. Tinha de ser.

No entanto, eu não sou canhoto. Passei 7 dias a fingir que era, mas não sou.
Agora sim, acredito que os canhotos morram em maior quantidade e com mais facilidade. Só podem. Mais do que os Xutos e Pontapés, eles sim têm o mundo ao contrário. Nada está feito para eles. Tudo aquilo em que mexemos segue a mesma tendência do voto dos portugueses: é da esquerda para a direita. As portas dos frigoríficos. Os automóveis. Os ecrãs. O alfabeto. Até a porra dos pára-brisas. O mundo não está feito para os canhotos. O que para nós é usar uma tesoura para eles pode ser uma questão de vida ou de corte. O perigo que eu passei em 7 dias, eles passam uma vida inteira.

Experimentei tudo. Limpar-me depois de defecar. Cortar a comida. Escrever sms's. Usar rato do computador. Carregar em botões. Meter mudanças. Escrever. Cozinhar. Fazer zapping. E fiz figura de parvo quase sempre. Parecia um símio a separar o lixo num anúncio sobre reciclagem. O meu nível de imbecilidade atingiu níveis novos. Tirar o porta-chaves do bolso, isolar uma chave e abrir uma porta tornaram-se física quântica. Senti-me o convidado de um episódio do "Salvador" da RTP1. Regredi na evolução das espécies, não merecendo os polegares oponíveis que os meus paizinhos me deram.

Não antevejo que ser ambidextro alguma vez seja uma questão de vida ou de morte mas sendo destro, não perco nada em conseguir usar as duas mãos com a mesma destreza. Sabe-se lá quando é que será preciso fazer malabarismo, jogar à sardinha ou participar numa menage à trois? Porque haveremos de ser muito bons a usar apenas 50% do nosso corpo? Um jogador de futebol não valoriza se chutar com os dois pés com a mesma qualidade? Eu senti que ao longo da semana ia dominando melhor a mão esquerda. Se em 7 dias consegui comer sushi com pauzinhos sem parecer um doente de Parkinson, em 7 anos conseguiria escrever. É uma questão de me ir invertendo de vez em quando.

Por isso, acabo este rescaldo com um pedido:
Se se divertem com os meus desafios;
Se dão por vocês a visitar este espaço só para saberem de que maneira me ando a rebaixar esta semana;
Se dedicam um pouquito de atenção que seja a este espaço;
... então hoje, antes de se deitarem, lavem os dentes com a mão esquerda.

Por mim.
Juro que vai ser divertido.
Se não para vocês, será para quem vos apanhar.

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