O prédio onde eu moro: 95 degraus.
O prédio onde eu trabalho: 170 degraus.
As pessoas que não usam elevadores: parvas.
Nos últimos 7 dias eu pisei mais de 2000 degraus. E estou só a falar em subir.
Doem as pernas. Os gémeos ficam doridos. A respiração acelera. E é como se todo o corpo ficasse 50 quilos mais pesado. Não é bem cansaço físico, é apenas o final do esforço de se subir 170 degraus. Todos os dias. Mas a verdade é que até sabe bem. E serve, na pior das hipóteses, como desculpa para evitar ir ao ginásio. Por isso, não percebo as pessoas que dizem não ter tempo para “fazer exercício”. Larguem os yogurtes magros, a coca-cola light e o tofu e comecem a evitar o elevador.
De manhã não custava tanto. Subia os 9 andares e punha-me a trabalhar sem pensar muito nisso. Era mais uma maneira de acordar depressa. À hora do almoço começava a ser pior. Exercício físico depois de comer só acentua a moleza. Era complicado recomeçar a segunda parte do dia de trabalho. Mas o pior eram as noites. Chegar a casa às oito da noite e ainda ter de subir 100 degraus é uma tortura. Sentia-me um concorrente do “Biggest Loser”. E eu peso 70 quilos. Não tenho a linha do equador como medida do meu raio.
Mas também houve maus momentos. Sabem quando estão a chegar a casa aflitos para ir a casa de banho e durante toda a viagem de elevador vão a fazer uma estranha dança com os joelhos só para aguentarem mais 30 segundos? Imaginem isso pelas escadas. Ou sabem quando chegam a casa bêbados – quem sabe drogados – às 4h da manhã, depois de uma noite inteira de pé ou de pé a dançar, e durante a viagem de elevador só pensam na cama? Imaginem isso pelas escadas. Eu gosto de elevadores. O elevador é aquele último amigo que nos leva a casa quando estamos mal.
E se a humanidade evoluiu o suficiente para nos pudermos deliciar com esta pequena ajuda vertical, eu acho que é de se aproveitar. Não é uma necessidade. É um mimo. E nós, como homens modernos, temos obrigação de honrar quem nos permite ser preguiçosos. A todos os homens que perderam a vida para que existissem comandos de televisão, carros, elevadores, micro-ondas, telemóveis e internet, eu fico quieto e parado em vossa honra. Obrigado.
Agora vou ali esparrar-me no sofá.
As minhas coxas, os meus pés e os nossos antepassados merecem.
PS - Esta semana descobri ainda que tenho poderes de clarividência. Na segunda-feira, primeiro dia em que tenho de usar as escadas, o elevador do sítio onde trabalho encrava. Podia ter sido eu lá dentro. Podia ter sido eu a carregar naquele botão de “alarme” 200 vezes chamando por ajuda. Aos que acham que estes pequenos desafios pessoais não servem para nada, eu digo “telefonem-me quando precisarem de assistência técnica.”
Sunday, January 16, 2011
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