Se esta semana foi alguma coisa, foi um falhanço.
Um incrível falhanço.
Eu não consigo deixar de dizer "obrigado". Posso tentar. E tentei.
Mas não consigo. Está emprenhado. Mecanizado. Não consigo.
Já me está no sangue. Como o instinto de sobrevivência ou os glóbulos vermelhos.
Foram mais 25 euros para o galheiro. Sim, penalizei-me novamente com um euro sempre que dizia "obrigado". E sim, foi mais ou menos o mesmo valor da semana dos "palavrões" mas se pensarem bem, palavrões há muitos, seus panascas. "Obrigado" há só um.
E eu disse-o. Repeti-o. Cheguei ao cúmulo de me forçar a ficar calado para que ele não saísse. Uma conversa era um campo minado. Um passo em falso e lá se me explodia a arrogância. Sabem quando estão a meio do acto sexual e percebem que têm uma flatulência irritante, aguda e urgente que vocês terão de aguentar até ao fim? O "obrigado" era esse peido. Sem eu o conseguir aguentar. Incrível como eu depois de me esforçar numa conversa corriqueira num restaurante, ficava orgulhoso de não soltar um "Obrigado" e, quando desviava a atenção, lá me saía um. "De nada" respondiam-me os sacanas.
E será que eu quero deixar de agradecer? É que pior do que os "obrigados" de circunstância em trocas comerciais, eram os honestos e sentidos. Esses dava para ficar calado e ignorar as regras de sociabilidade. Mas e quando tinha de agradecer um gesto, um empréstimo ou um conselho específico e pessoal? Tive de avisar que não podia agradecer a quem não conhecia e passar por arrogante aos que não conhecia. Não fez sentido. Eu quero ser o Mourinho das relações interpessoais? Quero ser o Boucherie da boa educação? Não.
Por isso falhei. Não encontrei nenhum substituto viável para a palavra "obrigado". Substituí-o por "boa tarde", "bom ano" ou "és o maior". Mas nenhum servia. Faziam-me passar por "velho", "velho" e "adolescente excitado", respectivamente. O "obrigado" estava sempre comigo. A palavra é pequena, simples e portátil. É como aqueles cães pequenos e irritantes das tias mas sem o barulho e as cagadelas - ou as porcarias que elas fazem com eles e geleia.
Acho que desde que não acabe a violá-la à bruta por excesso de uso, ela só me fica bem. Sim, porque há quem abuse das palavras. Há os gajos do "desculpa" no futebol, que a cada toque na bola, pedem logo desculpa. Há as pessoas do "com licença", que andam na rua como quem joga ao "Mamã, dá licença". Ou as pessoas do "bom dia", que cumprimentam cada ser vivo individualmente como se fossem um candidato à presidência a descer uma rua em campanha. Desde que eu não abuse do "obrigado", nunca acabarei como um vendedor da "Cais" a quem compraram uma revista.
Falhei. Mas não me importo.
A todos aqueles que durante esta semana evitei dizê-lo, desculpem.
A todos os que devia ter dito e passei por insolente, perdoem-me.
À minha mãezinha que me ensinou a palavra, obrigado.
Sunday, January 09, 2011
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