É karma.
Justiça divina.
Ou coincidência - se não forem fãs da Margarida Rebelo Pinto, claro.
Mas aconteceu. Na semana em que volto regularmente ao ginásio, acabo a cruzar-me com a minha treinadora. Sim, aquela senhora que quando me inscrevi por lá, me delineou todo o longo plano de tortura que eu teria por aquelas máquinas. Que me mediu pulsações, ritmos cardíacos e a vontade de andar por lá.
"Ao tempo que não te punha os olhos em cima, guilherme" - disse a minha Jilian.
"Pois. É o costume. Vocês treinadores ao início metem cá os pés e depois começam a deixar de vir..." - respondi-lhe eu. E ela não se riu.
Soube-me bem voltar ao ginásio. Por várias razões.
Primeiro, porque sabe bem ir ao ginásio. As pessoas que praticam desporto sabem que, apesar de estarem cansadas quando terminam, se sentem bem. Que há uma sensação de bem estar que fica no corpo no final do exercício físico. E segundo, porque ir ao ginásio dá permissão para se comer o que se quer. Não que eu seja paranóico, só não quero ficar gordo. Se gordura era formosura, hoje em dia tem cura. Gosto de acreditar que tenho um equilíbrio saudável entre querer fazer o exercício pelo exercício e fazer o exercício pelo que o exercício faz por mim.
O mesmo já não sei se posso dizer da maior parte das pessoas que andam no meu ginásio. Há demasiadas pessoas que levam o ginásio demasiado a sério. São mesmo uma espécie. Um animal de habitat natural óbvio e cada vez menos risco de ficar em vias de extinção.
O engraçado é que as diferentes personalidades de um ginásio têm diferentes horários.
Se vocês forem ao ginásio de manhã, por exemplo, vão apanhar velhotes. Cinquentões e adiante que com medo que uma veia se lhes entupa na testa, começam a correr. E a esticar-se. E a fazer, basicamente, figuras tristes. Eu quando imagino um senhor de 65 anos, imagino-o a jogar à sueca numa tasca. Não o quero ver num colchão de espuma a encostar um joelho a uma sobrancelha, todo vestido de spandex. Sou totalmente a favor do exercício físico na terceira-idade, mas nunca com roupa justa. E muito menos ao meu lado.
Já durante a tarde aparecem as tias desempregadas, movidas a injecções de capital dos maridos, e os desempregados. Talvez até alguns estudantes. Basicamente, a malta que não trabalha, como diz a letra dos anúncios da Nestum, "das nove às cinco". A malta que pode "passear" calmamente pelas máquinas, como quem visita um museu interactivo. Das tias que andam no ginásio para dizerem que andam no ginásio aos desempregados que andam no ginásio para se obrigarem a sair de casa, a tarde é levada a meio gás.
Ao final da tarde, entra a "happy hour". Os engravatados. Os body builders. E as gajas boas. Basicamente, um ginásio às 19h tem a mesma afluência de uma orgia no quarto do Berlusconi. Torna-se impossível conseguir um lugar para estacionar numa passadeira.
Há os "maratonistas" - que vão ao ginásio para correrem durante 4 horas e meia sem parar nas passadeiras, salpicando pingas de suor para todo o lado como se fossem sistemas de rega;
As "dondocas" - gajas boas que visitam o ginásio para usarem a máquina dos degraus durante cerca de meia-hora, com interrupções de 5 em 5 minutos dos treinadores a perguntarem se "precisam de alguma coisa";
Os "engravatados" - que correm do trabalho para o ginásio para se sentirem tão, mas tão yuppies que o gel no cabelo, o BMW na garagem e os 15 dias na neve devem estar colectados na bolsa;
E os "blindados" - a malta, que de diferença para um tanque de guerra só têm a portabilidade. Só lhes falta perceber que se vão ao ginásio mais que as empregadas de limpeza do mesmo, há qualquer coisa errada.
Mas não importa onde é que vocês se enquadram.
Só farão parte de um ginásio quando gemerem profundamente de dor ao levantar um peso. Mesmo que esse peso seja uma folha A4.
A verdade é que se se estão a rir destas pessoas, elas é que deviam estar a rir-se de vocês.
Porque é que não vão ao ginásio? É uma dor? É falta de tempo? É a deslocação? É o tempo?
É uma bela merda, é o que é. A preguiça não se vê, ouve-se. E tem o som de uma desculpa esfarrapada.
Até já existem exercícios de fazer em casa, como o youtube, a Wii ou a tele-vendas. Chegamos a um ponto na actualidade, em que para fazer ginástica basta que se tenha pulsação.
Não há qualquer desculpa para não eu ir ao ginásio mais vezes por semana.
Não tenho de seguir todo o plano de "enchimento" à risca. Posso passar por lá só para correr 20 minutos. Ainda para mais quando demoro 1 minuto a lá chegar. Tenho, de certeza, 30 minutos da minha vida, 3 vezes por semana, para dar a um ginásio.
Pelos meus 60 euros de mensalidade.
E pelos meus 60 anos de idade.
Que um dia quero ser o velhote de joelho na sobrancelha.
Sunday, February 20, 2011
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2 comments:
Então mas o Holmes Place agora anda a patrocinar os guionistas todos? Olha, a mim convenceste-me. Amanhã estou lá batida. Se a minha treinadora me apanha, não há piadas que me valham.
Querida Lara,
Como me disse uma vez um taxista sobre homossexuais: "ai, eu não sou desses, caralho." Eu ando no Ginásio Clube Português e de borlas, só o dentista, que é amigo da minha mãe e um porreiro.
No que toca a piadas para a sua treinadora, experimente a do boomerang:
P: Como é que se chama um boomerang que não volta?
R: Um pau.
Pode ser que resulte com ela como resulta comigo e com uma criança de 3 anos.
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