T Clube. Algarve.
Para quem não conhece é uma discoteca que fica entre a Quinta do Lago e Vale do Lobo.
Para quem não conhece, são os dois sítios onde a nata da sociedade portuguesa passa férias.
Os parques de estacionamento das respectivas praias são mais caros que qualquer stand em Portugal.
As praias são as únicas do país em que as mães são tão boas como as filhas.
No centro, e frequentados durante a noite, o T Clube e a Trigonometria estão lado a lado. A Trigonometria é a discoteca dos filhos, o T Clube a discoteca dos pais. A Trigonometria tem centenas de crianças bêbadas com dinheiro a mais, o T Clube tem centenas de pais dessas mesmas crianças, a quem dão dinheiro a mais.
Na minha primeira noite de Algarve, uma amiga disse conhecer o RP do T Clube e sugeriu irmos lá beber um copo, entrando sem consumo mínimo. Não me pareceu mal. Nessas condições até no Inferno beberia um copo. (Sítio onde maior parte da frequência do T Clube vai acabar invariavelmente a eternidade a sair à noite.) Quem quer pagar consumo mínimo para ver donos de iates e de acções de multinacionais a dançar, abraçados a mulheres 30 anos mais novas que eles? Not my kind of fun.
Com saudades do já extinto Klube, que muitas noites me alegrou em temporadas de Algarve, lá me aventurei para o T Clube.
À entrada a referida amiga cumprimenta o RP do espaço e aponta para o grupo atrás de si. O rapaz dá uma vista de olhos a todos e pára em mim e noutro amigo meu.
(Adenda necessária: Eu estava de t-shirt preta, do Hardrock, com uma guitarra, calças de ganga e sapatos bejes. Normal. O meu amigo – vítor - tinha a barba por fazer, piercing no lábio, t-shirt branca, tatuagens no braço esquerdo e umas calças de ganga acabadas com All-Stars. Eu estava normal. Ele estava “rocker”. Como na verdade… é.)
O RP olhou para nós e disse à amiga: “X, o pessoal hoje está um bocado… alternativo.”
O vítor riu-se, eu fiquei estupefacto. Nunca tinha sido rotulado de “alternativo” por associação. Estar ao lado de um amigo com tatuagens, vestindo a minha t-shirt com uma guitarra, fez de mim… alternativo. Resultado entraram todos com cartões sem consumo menos nós. Mas o T Clube tinha um negócio para nos oferecer. Ou uma alma para nos comprar.
Era noite de uma acção de beneficiência encabeçada pelo espaço. T-shirts estavam a ser vendidas e as receitas iriam ser revertidas a favor de alguém que, honestamente, não faço a mínima ideia que era. Não me explicaram isso. Só que para passar aquela porta, tinha de vestir aquilo. Eu e o Vítor vestimos aquelas t-shirts, o vítor tirou o piercing e tapou as tatuagens com um casaco e lá entramos, com um cartão sem consumo e 15 euros de tshirt por pagar. Um negócio rasca mas que me tornava muito menos “alternativo” para o espaço.
Estivemos lá dentro uma hora. Estava vazio. Vi ingleses agarrados a inglesas e a garrafas de champagne, ouvi música dos anos 80 que só ouço no Platou e fiquei com ainda menos vontade de lá voltar. Uma imperial… 7 euros. Uma caipirinha… 14.
Aquilo não é o meu espaço. E não por uma questão de não ter um centésimo do dinheiro na conta que aquelas pessoas têm. Simplesmente porque não é. Não quero estar na capa de revistas, não quero convidar outros cirurgiões e empresários para o meu barco e muito menos quero conhecer a fantástica e plástica filha do tio do primo do médico do senhor engenheiro que vai casar em Setembro com o forcado filho do dono da empresa que gere as toneladas vindas da argentina todas as quintas em petroleiros.
Á saída fui buscar a minha t-shirt alternativa, mostrei o meu cartão que sem consumo, me custava 0 e sai. Só cá fora é que me apercebi. Não paguei a t-shirt.
Estive no T Club, sem pagar, sem consumir e sai de lá com uma t-shirt grátis, que me levou de “alternativo” a “caridoso e atento a causas sociais graves”. Causas essas que não me lembro porque não me explicaram quais eram. Nem estão descritas na própria t-shirt.
Querem ouvir a piéce-de-resistênce? Não vi nem uma pessoa com uma t-shirt daquelas lá dentro. Nem uma. Eu e o Vítor, os alternativos, fomos os únicos que abrimos um pacote com uma t-shirt daquelas. Os “alternativos” eram de tal forma “alternativos” que foram os únicos que apoiaram causas sociais por definir. Os “alternativos” usam as únicas t-shirts de beneficência, que custam 15 euros. Os “normais” bebem caipirinhas que custam 14.
- Conto só mais uma história dessa noite. A amiga que nos meteu lá dentro, que ficou honestamente desconfortável com a ocorrência da “alternatividade”, já estava bastante tocada. É das poucas pessoas “loucas” que conheço que o são de uma forma saudável, alegre e bem disposta. Onde quer que esteja é a “pulsação” de uma festa, e sempre será. A tal X dentro da discoteca, viu uma rapariga que conhecia. Aproximou-se dela e fez-lhe uma pergunta. Enquanto esperava pela resposta olhou para ver com quem a sua amiga conversava. Era o Sá Pinto. Ela olha para o Sá Pinto e simplesmente diz: “Desculpa, mas sou do Benfica.” E vira-lhe a cara. O Sá Pinto riu-se e acabou a pagar-lhe uma bebida. Enquanto conversavam, ela conseguiu “melhorar” a situação. Virou-se para o Sá Pinto e disse “És um porreiro… mas não jogas um cu”. Quem fala assim não é gago. E normalmente já está alcoolizado.
Sunday, August 16, 2009
All Garve and no Lisbon make Gui a Happy Boy #1
Etiquetas:
algarve,
escrita,
histórias,
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sinceridades
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1 comment:
Muito bom guilherme. Ficarei à espera de mais.
"não quero convidar outros cirurgiões e empresários para o meu barco e muito menos quero conhecer a fantástica e plástica filha do tio do primo do médico do senhor engenheiro que vai casar em Setembro"
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