Monday, December 27, 2010

7 dias #5

Se há algo que sempre me fascinou no futebol, é a linguagem.

Ninguém directamente envolvido no mundo do desporto rei sabe o que diz. Mas dá-se demasiada importância ao que eles dizem. Há um grave problema de "português" na nossa primeira Liga mas as palavras dos respectivos enchem mais páginas de jornais, blogs e conversas de táxi que as regras do FMI. O futebol é um desporto, logo a nossa atenção devia estar no campo e não nas flash interviews. Mas como um condutor abranda para ver um capotado na faixa contrária, nós insistimos em acompanhar entrevistas a jogadores a arfar depois de 90 minutos a correr. Ou a treinadores iletrados que se esforçam por falar como se fossem versados.

Acredito que para os portugueses, o futebol seja um "destressador" como o sexo.
Portanto era óbvio que tínhamos de adorar o "miminho pós-coital".

Olhemos para um treinador de um clube, por exemplo. Fascina-me que durante 90 minutos tenhamos planos apertados, em slow-motion inclusivé, da sua fronha mal disposta a gritar palavrões - sim, porque não é preciso ser surdo para ler aqueles lábios. Mas entretanto o jogo acaba, os jogadores descansam, os pontos são atríbuidos. O treinador vai falar com um jornalista munidos de perguntas insignificantes e é nesse momento que o treinador tem de fazer o maior esforço da sua vida. Para se manter calmo. Para não insultar a mãe de ninguém. E para construir uma frase com pés e cabeça. Sempre, evitando os palavrões.

Eu gosto de palavrões. Gosto de os dizer. De os usar. E de os ouvir.
Sabe tão bem dizê-los na altura certa como ouvi-los da maneira correcta.
Mas como sou, profunda e convictamente, anti-formalidades, faz-me confusão ver alguém evitar dizer um, com tanto esforço. Não era maravilhoso se o Jorge Jesus simplesmente dissesse, no final de um jogo, "não jogámos um c*ralho.", virásse costas e fosse procurar a águia Vitória?

Pelo meu amor aos palavrões, e pelo meu desdém para com a formalidade imposta, falsa e castrativa...
...vou passar os próximos 7 dias sem dizer um único palavrão. Serão aceites interjeições como "porra" ou "caraças", mas os grandes avançados do campeonato da linguística latrineira, não serão utilizados.

Quero ter saudades deles.
Quero saber exactamente o que eles valem.

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