Monday, December 13, 2010

7 dias #2: rescaldo

60 notificações.
6 mensagens.
4 pedidos de amizade.

...é isto que se acumula em 7 dias sem Facebook.

Se custou a passar esta semana sem Facebook?
Eu respondo-vos utilizando um pequeno diário representativo:
1º dia sem Facebook: foooooooooooooooda-se.
2º dia sem Facebook: Porquê? Porquê? Porquê?
3º dia sem Facebook: Será que me apagam aquela porcaria se eu não for lá...?
4º dia sem Facebook: Deixa-me só ir partilhar ali uma fot... merda.
5º dia sem Facebook: ......................
6º dia sem Facebook: Foi sábado. Fiquei bêbado.
7º dia sem Facebook: Ah, olha... daqui a duas horas já posso voltar àquilo.

A primeira coisa que quero que fique em acta é: eu estava viciado em Facebook. Mesmo.
E apercebi-me de que toda a gente à minha volta também está. E sabe que está. Mas não quer saber.
Custou-me tanto o início da semana, que estava literalmente a passar por uma “privação”. Felizmente não me deu para arrumar carros. Quando desliguei o Facebook no domingo à noite, fi-lo como fazemos quando fechamos a nossa casa para ir de férias. Verifiquei se estava tudo bem, fechei a porta à chave com duas voltas e deixei uma luz acesa para não ser assaltados. Ia ser divertido, mas ia ter saudades do meu espaço.

Mas aguentei. E o que um drogado faz quando está a ressacar é desesperar. Passei os dias todos com a sensação de que me faltava fazer qualquer coisa. Que algo estava incompleto. Por mais páginas que estivessem abertas no meu computador, não conseguia afastar a sensação de que me estava a esquecer de qualquer coisa. E depois do "desespero" veio a fase da "transferência". Inconscientemente procurei "arranjar substitutos". Passava o dia todo a olhar para as pessoas que estavam online no gmail. A fazer refresh ao Google. Ao google! A abrir e a fechar os mails. De dois em dois minutos. Como se o spam estivesse a entrar sorrateiramente pelas traseiras e eu o quisesse apanhar em flagrante.

Só 4 ou 5 dias depois é o sacana do Facebook se eclipsou. Saiu-me do sistema. Do inconsciente. Mas a verdade é que o principal embate da falta de Facebook foi social. Senti-me totalmente "fora da conversa". Mais do que nunca percebi que as pessoas já não falam umas com as outras apenas numa frequência. Usam o FM mas também abusam do AM.

Durante dias senti-me como se estivesse surdo. Toda a gente à minha volta estava a conversar e eu não os ouvia. Mas via-os. Sentia-os. Senti-me isolado. Como se a festa estivesse a acontecer num sítio onde eu não chegava.
Percebi que já não dizemos as coisas que pensamos uns aos outros. Escrevemos em Word, carregamos “send” e depois evitamos conflitos na vida real à base de silêncios desconfortáveis e piadas pré-programadas. Preferimos mandar um e-mail com uma versão directa e sarcástica do que pensamos a gritar olhos nos olhos. Já ninguém fala a sério ao vivo. Apenas coloca um ponto final naquilo que já disse pela internet.

E como se não bastasse a privação que estava sofrer fora do Facebook, lá dentro tinha colegas, amigos e família que resolveram usar o meu mural como se fosse uma porta de uma casa de banho pública. Sacaram de uma caneta e foram cuspindo tudo o que lhes veio à cabeça, no meu mural…

Um irónico e sublime “lá fora és um herói mas aqui dentro cagaste todo”.

Felizmente evitaram os números de telefone e os "broches a camionistas" da praxe e tiveram piada. Muita. Posso dizer-lhes que apreciei a homenagem a pequenas prestações de "gozo".

O que tiro desta experiência violenta e viciosa é que o Facebook já não é apenas uma página de internet. Um interface social. Ou um perfil pessoal cibernético. É um limbo, um purgatório de relações humanas, onde se convive com as pessoas de quem se gosta e se evita quem se despreza.

A lição que tiro do Facebook, é que não faz mal não ter.
E que não faz mal lá estar.
Porque não interessa o sítio. Interessa a companhia.

1 comment:

Marta K said...

É incrivel como o facebook nos pode fazer sentir tão deslocados numa conversa. É que isso é mesmo verdade.