Thursday, July 15, 2010

Picado vs Tom cruise e Cameron Diaz

“Dia E Noite” – Um filme com uma dupla de actores que nem um polvo podia adivinhar que se iam juntar

CONTRA PICADO/GF – Este filme é capaz de perigoso para a saúde do espectador mas não porque esteja desfocado ou com o som alto demais. É apenas porque ver Tom-a-Cientologia-está-de-férias-Cruise e Cameron-estou-farta-de-ser-a-voz-de-uma-ogre-verde-Diaz no mesmo espaço durante hora e meia seguida é capaz de causar danos neurológicos. É uma dupla tão improvável como Miguel Sousa Tavares e Zezé Camarinha ao engate numa praia do Algarve. E produz exactamente o mesmo vómito surpresa no interior da nossa boca, que discretamente temos de engolir sem que ninguém à nossa volta repare. O Tom Cruise é um homem que devia estar na sua casa a tentar comunicar com extra-terrestres – ou como ele lhe chama: “rezar” – não era a disparar armas. A Cameron Diaz devia estar na sua casa sentada, quieta, no seu sofá – ou como eu lhe chamo: “descanso” – não era a gritar durante uma hora seguida.

Um filme de acção e comédia com estes dois é uma ideia tão non-sense que parece um sketch dos Monty Python reescrito por um veterano de guerra com problemas mentais. E se vão à espera de mensagens inteligentes e lições morais profundas, esqueçam. 109 minutos disto tem o mesmo impacto intelectual que 109 minutos a tirar macacos do nariz com uma vuvuzela. No fundo, “Dia E Noite” é como uma lapdance de uma romena no Cais do Sodré: vazio, mecânico, triste e demasiado caro para algo que o pode infectar para sempre.Em relação ao meu conselho cinematográfico desta semana, quero mencionar um maravilhoso filme espanhol, de um realizador chamado Paco Pado Dado, que trouxe ao mundo “El Beso De La Palavra”. Durante uma hora e meia, um fanhoso lê haikus japoneses na estação de metro de Barcelona. Sem que ninguém pare para o ouvir, o fanhoso divaga sobre temas como a “vida”, o “arroz” ou “como é difícil arranjar um táxi em Tokyo depois das 23h”, sem que saiba o que está a dizer, porque não fala japonês. Uma maravilhosa dissertação visual e literária sobre a linguagem, a sociedade e os taxistas que fazem pausas longas demais para jantar.


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