Nas aulas de escrita de humor disseram-me que uma boa ideia "dava pano para mangas", que as melhores premissas são aquelas que têm mais por onde trabalhar e explorar.
A experiência depois confirmou, mostrando-me que uma "ponta por onde se lhe pegue" é aquela que cria espaço para variações, inversões, conclusões e suposições.
Agora pensem nesta ideia: imaginem um mundo onde ninguém mente. Toda a gente diz a total e bruta verdade. Até que um homem mente pela primeira vez.
Esta é a premissa de "The Invention of Lying", um filme escrito e realizado por Ricky Gervais e Matthew Robinson, que juntos provam que ainda é possível ter boas ideias. Que o cinema não tem de ser apenas sequelas de sequelas de remakes de ideias antigas com actores novos.
No entanto, o filme não consegue chegar ao nível da ideia. Tem problemas de ritmo, de dramatismo e - infelizmente porque sou o maior fã dele - o Ricky Gervais não consegue aguentar um papel dramático durante uma hora e meia. E "Ghost Town" tinha sido o primeiro aviso.
A verdade é que quando tem de se passar da "boa ideia" para a "narrativa", a sátira à Igreja é boa, a qualidade do humor é irrepreensível mas a história de amor é banal.
O filme vale a pena ser visto porque a ideia é excelente; porque tem fantásticos momentos de humor; porque tem uma boa camada de sátira sobre a moral e os bons costumes; e porque é uma boa lição sobre "como esmiuçar uma excelente ideia". Mas não é uma obra prima. É divertido, bem conseguido mas, infelizmente, é um daqueles casos em que a ideia era simplesmente boa demais.
Fiquei desiludido pelo que a premissa prometia mas o resultado final não deixa de funcionar. Talvez a ideia seja tão boa que na cabeça de quem a ouve, resulte sempre melhor do que numa tela de 7 metros e meio por 18.
Apenas uma menção para o role de actores que fazem cameos neste filme. De Edward Norton a Philip Seymour Hoffman, passando pela Tina Fey e pelo Louis C.K., há todo um vasto leque de celebridades que, durante alguns minutos, dizem javardice em barda.
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