"As coisas que mais detestamos são as que não controlamos.
As que simplesmente nos fogem das mãos, têm vida própria e não nos obedecem de forma alguma.
É frustrante. Cansativo. Triste até.
E se uma coisa é não controlarmos pessoas ou acontecimentos. Outra é não controlarmos emoções. E não estou a falar das nossas. Isso seria fácil. Estou a falar das dos outros.
Eu não sei, não percebo, se ela está apaixonada por mim. E queria tanto que estivesse. Mas a verdade é que não funciona como um botão. Não bato uma palma e acendo uma luz. Ou acontece, ou não acontece.
Acho que a maneira mais “fácil” de lidar com o “afecto” do outro é sendo “frio”. Pensem comigo. Se um homem é frio, cabrão, distante, prático, não espera nada do outro lado. Se levar um chuto no cu, levou. Se a outra pessoa se apaixonar, é bónus. E ainda por cima, ser-se distante torna-nos “difíceis”. Quem dá luta, dá pica. Quem dá pica, é provável que nos faça sentir qualquer coisa.
Mas não consigo adoptar esta postura. Não sou assim.
Ela não está aos saltos. Não está excitada. Energética. Não lhe apetece gritar aos 4 cantos do mundo que gosta de mim. Não está apaixonada. Ontem foi fria e distante comigo e passámos horas ao telefone a falar disso. Ela diz que às vezes tem de se lembrar porque gosta de mim. Mas que se eu fosse “outro” que “já tinha ido”.
O meu primeiro instinto foi saltar do barco. Porquê lutar? Se tenho de partir pedra, porquê estar aqui? Se ela não vai nunca apaixonar-se por mim, se apenas tenho uma “mira na testa” e estou à espera de levar um balázio, porque não fujo? Não foi ela que me avisou que me ia magoar?
Mas eu gosto muito dela. É complicada. Difícil. Diferente. Mas eu sabia disso quando a conheci. Porra, quando a pedi em namoro tive de a “convencer”. Eu sabia que ia passar por isto. Que ia ter de partir pedra. Só não julguei que seria um bloco de mármore tão grande. Milhares de coisas me passam pela cabeça e penso o que terei de fazer, mudar, tentar, dizer, fazer para que as coisas mudem.
Porque é que ela não se apaixona por mim?
Porquê? Porque sou fácil. Tudo foi. Primeiro, tudo aconteceu depressa demais no início. Não houve luta. Não houve nada. Houve “calma” e “conforto” e isso é bom, mas não mexe connosco. O que sentíamos foi adormecendo e não foi preciso “espicaçar a lareira”. Ela estava “quentinha”. E agora tenho medo que tenha morrido.
Se eu quero que as coisas resultem com ela, vou ter de trazer acendalhas. Ela disse que “às vezes tem vontade de me abanar e de me dizer para acordar”. Não era a mim que ela queria dizer. Era a nós. Saltamos degraus. Passámos de um estado de nos “conhecermos com gosto” para um estado de “parecemos namorados de há anos”. Não houve “início de namoro” e se não houve “é natural que tenhamos saltado a paixão”.
Será tarde demais? Eu não acho. Se for, que seja, mas não quero saltar. Quero lutar. Mas preciso de sinais. Preciso de força. Não quero atirar barro à parede e ver se cola. Não quer ter um temporizador a dizer-me quantos minutos ainda estão a contar. Às vezes sinto-me tão sozinho. Tão distante.
É suposto começar a avaliar se vale a pena? É suposto estar triste? É suposto estar mole? Não consigo perceber o que tenho de fazer para ficar com ela. E quanto mais penso nisso, mais percebo que passa por não pensar.
Acho que sinto isto porque estamos distantes. Porque não a sinto “aqui”. Funciono por amuo. O que não tenho penso como viver sem. O que tenho, faço os impossíveis por ficar com. Seria tão fácil simplesmente acabar com tudo. Por um ponto final. Dizer “foi bom” e saltar para o dia seguinte. Mas não me quero arrepender do que faço, quero arrepender-me do que não faço.
Desde a minha primeira paixão em pequeno que tive a noção que ia sofrer muito. Há pessoas que nascem para serem felizes em relações. Que são boas nisso. Há outras que nascem para irem aproveitando o que podem. E se conseguirem, serem felizes quando der. Se há coisa que durante a vida temos de fazer com o que nos passa pelas mãos, é sabe tirar delas o que de bom ela nos têm para dar.
Quando já não tiverem, valeu a pena.
Vou ter calma. Respirar fundo. Erguer o queixo e olhar a besta nos olhos.
Sabem como sobrevivem a um ataque de um leão? Quando ele já está a correr na vossa direcção, correm na dele. A gritar. A esbracejar. Ele quebra o ataque e foge.
Eu estou pronto para correr…
...e tu?
Diogo Ávila - 4 de Março, 16h, casa do meu pai"
Sunday, April 04, 2010
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2 comments:
Mais que triste é realmente frustante o facto de nos sentirmos incapazes de encontrar a solução para qualquer problema. As voltas que damos a tentar encontrar a solução certa é apenas uma forma rápida de gastar as energias todas que havíamos acumulado até ao momento.
Há quem diga que para alcançarmos felicidade temos de lutar por ela porque sem luta e sem esforço não se consegue nada. Será assim? Possivelmente. Afinal de contas, se não há luta por atingir um determinado fim, não há maneira de sentirmos qualquer tipo de felicidade por termos realmente atingido o objectivo que haviamos proposto.
Mas, por outro lado, o arranjar solução para os problemas não é apenas uma questão individual. A maior parte das vezes é realmente o consenso entre duas pessoas (ou mais) que aceitam procurar a solução em conjunto.
"You can just think about talking if there's another person who allows to become part of it with you. Only if the other person is willing to talk too. If not, there's nothing to do, no matter how hard you may try to solve anything. Trust me! Alone, some stuff are just way too hard, even when in your head they don't seem that difficult." (Kong)
Mas no final, independentemente das vontades que se façam ouvir, a solução é sempre a mesma. Para qualquer um, para qualquer assunto. "Erguer o queixo e olhar a besta nos olhos", sem medo, sem dúvidas. Apenas olhar em frente e correr.
"Michaelangelo's father. He was a wealthy man, who had no understanding of the divinity in his son, so he beat him. No child of his was going to use his hands for a living. So Michaelangelo learned not to use his hands. Years later, a visiting prince came into Michaelangelo's studio and found the master staring at a single, 18ft block of marble. Then he knew that the rumours were true: that Michaelangelo had come in every day for the past four months, stared at the marble, and gone home for his supper - so the prince asked the obvious, 'what are you doing?' - and Michaelangelo turned round and looked at him and whispered, 'Sto lavorando' - I'm working. Three years later that block of marble was the statue of David".
John Locke - Lost - s01e13 - Hearts And Minds
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