Há actuações que nos massajam o ego.
Que quando acabamos sentimos ainda o calor do público na mão.
Em que sentimos que tudo o que vamos dizer nesse dia… vai resultar.
São as actuações que nos dão força e gosto pela arte que fazemos.
Mas também há as actuações que nos fazem ter vergonha de ter estado em palco.
Que nos pontapeiam o ego ao jeito de Pepe a jogar pelo Real Madrid.
São as actuações que nos minam de dúvidas, incertezas e inseguranças.
São as actuações que nos deviam melhorar… mas que insistem em corroer-nos.
Ontem, em Évora, num bar chamado MolhoBico, tive das piores actuações que já tive.
Não sei explicar como aconteceu. Disse o texto que sempre digo. Da maneira que sempre digo. Na língua que sempre digo. Mas não resultou.
Há dois tipos de comediantes. Os que, quando corre mal, culpam o bar. E os que, quando corre mal, se culpam a si mesmos. E ao bar. Eu sempre fiz um esforço para ser o segundo. Se sou profissional, se me estão a pagar para “fazer rir”, tenho de fazer rir em qualquer lado, de qualquer maneira, qualquer pessoa. Eu que me adapte, olha a merda. Por muito que isso custe, me faça suar, me saia do pêlo, é um trabalho para o qual me estão a pagar.
Ontem não consegui. Não “agarrei” o público. Não tive gargalhadas. Não fiz um bom trabalho. Podia culpar o intervalo que impuseram de 25 minutos: quebra o ritmo todo da noite. Podia culpar a sala: tinha uma péssima acústica e forma para stand-up. Podia até culpar o público: que não estava para ouvir um comediante, queria era conversar sossegado. Podia culpar o nosso País: que não tem cultura de stand-up e me obriga a actuar apenas 2 a 3 vezes por mês. Podia até culpar Deus, se acreditasse nele. Mas a culpa também foi minha.
Que noites como a de ontem me façam ver que, mesmo depois de 3 anos, é melhor não me armar em vedeta. É melhor não tomar as coisas como garantidas. Que mesmo depois de 3 anos, devo trabalhar e tratar cada actuação como se fosse a minha primeira. Que cada quilómetro a conduzir de volta para Lisboa em total neura me sirva para alguma coisa.
Não podemos ter sempre noites boas.
Mas podemos suar a tentar.
Thursday, February 25, 2010
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5 comments:
Podia replicar-se isto e aplicar a mil e uma coisas. É mesmo assim. But you got the spirit e isso é que importa. You' ll do just fine.
*
Se fosse sempre fácil, éramos todos comediantes. No entanto, tu sabes bem o trabalho que dá (muito mais que eu pelo menos) e é por isso que admiro o que fazes. Ontem correu mal, mas epá, amanha corre melhor.
Eu às vezes gosto de fazer um discurso mais encorajador! ;)
lembro-me quando um artigo também não me correu bem. e pensei exactamente da mesma forma. "fiz tudo igual". não é fácil. mas isso é o que o torna desafiante.
força *
Há noites assim para todos nós, não é verdade? :)
Culpar Deus parece-me uma alternativa sólida...olha o que ele fez com Abraão...
Só queria mesmo dizer que ao abrir os comments para deixar este pedacinho, o meu browser abriu uma janela a oferecer-me um Green Card pos Estates. Talvez seja uma mensagem...
Quando corre mal...
...
é porque é perneta.
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