Esta semana Rafael Contra não se poupa nos comentários a "Nas Nuvens", o novo filme de George Clooney e Jason Reitman.
“Nas Nuvens” – porque o filme vale mais a pena ser visto quando estiver drogado
CONTRA PICADO/GF – A sensação que eu tive ao ver este filme foi a mesma de estar sentado numa cadeira eléctrica, com Sócrates vestido de grilo da EMEL prestes a carregar no botão que me frita os miolos, e a ver numa televisão, em directo, Cavaco a condecorar Santana Lopes. Tudo ao som da música do concerto de despedida dos Delfins. Na Idade Média as batalhas eram iniciadas pelo som de cornetas. Em Nagasaki e Hiroshima soou primeiro uma buzina para avisar que iam cair as respectivas ogivas. Em Hollywood, o esquema é o mesmo. Levam-se primeiro com os “Globos de Ouro” para relembrar os cinéfilos que vêm aí os “Óscares”. É um aviso seco de que o Armagedão aí vem. Quem tem bunker salva-se. Quem não tem, leva com vestidos de marca, sorrisos amarelos e falsas lágrimas empacotadas em discursos histéricos. Não há escapatória. Estes duzentos cavaleiros do Apocalipse, devidamente retocados por médicos, já estão a cavalgar pelo nosso Janeiro adentro.
E todos os anos é a mesma coisa. Antes dos Óscares, estreiam os filmes com pretensões a ganhá-los. É o chamado “engate à porta da casa de banho”. O rapaz fica à espera à porta da casa de banho da discoteca e quando a menina sai, faz-se ao bife. “Nas Nuvens” está já na fase de mandar piropos. Tentou engatar uns prémios nos “Globos de Ouro” e levou tampa. Agora atira-se de cabeça aos homenzinho dourado a ver se não vai para casa sozinho. Este jogo de sedução pegajoso e nojento do cinema americano é só triste. Os filmes são feitos para ganharem prémios ao estilo dos rapazes que se perfumam só para verem se têm companhia na cama. E “Nas Nuvens” nem é muito bom no engate. Jason-eu-depois-penteio-me-Reitman já falou de tabaco e gravidezes indesejadas. Como os tabus para adolescentes não lhe davam prémios, atacou o mundo do desemprego. Onde, se tudo correr bem, vai parar rapidamente. Desejaria o mesmo a George-eu-agora-não-faço-a-barba-Clooney, mas esse terá sempre emprego, nem que seja a vender máquinas de café. “Nas Nuvens” não vale o bilhete porque é apenas um esforço tipicamente americano de receber condecorações sem as merecer. É um trabalho de casa feito por um preguiçoso que se lembrou que tinha um prazo para a manhã seguinte. “Nas Nuvens” só faz sentido se for visto sob o efeito de fortes drogas alucinogénicas. Fará jus ao título e trará John Malkovich para o seu lado, rindo de George Clooney consigo.
1 comment:
espera, que desta vez o rafael estava com uma raiva...sólida. desta vez nao é só veneno do bom para a malta de se rir, é fundamento bom. hum...tenho de ver este filme!!
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