Tuesday, September 22, 2009

Porto, a cidade que sofre de complexo de “segundo-filho”

Não me perguntem como me lembrei disto, porque não sei. Mas sendo eu o mais velho dos meus irmãos e tendo um carinho enorme por eles, isto apareceu na minha cabeça.

O mais velho de uma família, o primeiro filho, está normalmente mais adormecido, controlado, ameno que os outros. Não é que não tenha personalidade, é apenas mais discreto. Teve mais atenção, quer os pais queiram, quer não. Um segundo filho tem de se “mostrar”, tem linhas básicas, passos já dados, que tem de contornar. Tem um caminho já desbastado que tem de furar. É por isso que os segundos são de extremos, tem de se diferenciar do anterior. Há séculos atrás, o primogénito era quem iria gerir o dinheiro e as terras do pai. O segundo? Ou ia para padre ou para soldado. Os extremos. Ou lutas até à morte ou espalhas a palavra do Senhor, de paz e amor. Os irmãos do meio são sempre o primeiro, levado até ao limite.

Não sei porquê, sendo que o Porto nasceu primeiro que Lisboa, mas são os do norte que sofrem do Síndrome de “Segundo-filho”. Deve ser porque Lisboa é a capital, o centro político, o centro burocrático e legislativo. O centro das atenções e decisões. Deve ser por isso que no norte, se sentem o “segundo”. O “segundo filho”. Se virem as pessoas no Porto, são puras. São honestas. São extremos. No Porto ou são os vossos melhores amigos de sempre, ou estão a tentar tirar-vos os dentes ao pontapé. Ou estendem a mão a um desconhecido, ou lhe acertam na cara. Com força. Olhem a Francesinha. É óptima mas é demais. Um prato com 14 tipos de comidas diferentes? Olhem as mulheres no porto. Ou são lindas de morrer, ou exageram a cada risco nos olhos. O Norte tem as mulheres mais bonitas do país. Mas também as mais feias.

Como todos o segundos filhos, o Porto ou é genial ou um total falhado. Ou é inspirador ou criminoso. Ou têm carros de luxo pelas ruas, ou crianças descalças a correr pelo rio. O fosso é muito maior. Simplesmente porque se querem distinguir. Sobressair. Eu entendo a “arrogância” latente nestas palavras. Dizer-se que o Porto é como é porque “não é Lisboa” é assumir que eles vivem para nós. Eu não sinto isso. Não é uma questão de “acção-reacção”. É simplesmente uma coabitação inconsciente. Saudável, porque nos dá personalidades distantes. Chata, porque nos faz discutir mais do que devíamos. Apaixonante, porque faz de nós um país vivo. E totalmente aleatória, porque ninguém escolhe os pais… nem controla quando nasce.

2 comments:

Pedro Fonseca said...

Tens toda a razão ! Adoro e detesto o Porto. Os do Porto insistem em comparar-se sistemáticamente com os de Lisboa, enquanto os alfacinhas, a invejarem alguém, acho que é mais os novaiorquinos, os amsterdineses :) ou os romanos...
Alguns dos meus melhores Amigos vivem lá, e quando os visito, é sempre para jornadas inesquecíveis. mas só de 3 dias...
A Arte, a Cultura, o Desporto, a noite, os restaurantes, os bares, os espetáculos são muito mais pobres e ao mesmo tempo muito mais acarinhados que em Lisboa. Gosto MUITO do Porto, mas não vivia lá...
É mais ou menos o mesmo que sinto pelo teu irmão. Adoro-o, acho-o bonito, inteligente, inconstante, "chato" e maravilhoso na sua impaciência. Mas a escolher uma outra "pele", não escolhia a dele, de certeza. A tua ? Talvez, é mais "urbana" :)

Fátima said...

adoro as gentes do porto. são puras. mas ao mesmo tempo, querem demais, amam demais, e também se fartam logo demais... tenho lá família e sei do que falo =P

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