Estávamos os dois num intervalo de uma aula, provavelmente a jogar ping-pong ou a recordar filmes de acção dos anos 90, quando “levámos” com a ideia.
“E se escrevêssemos uma sitcom sobre dois gajos desempregados?”. Já não havia regresso possível. O João Canelo apenas deve ter respondido: “E um deles explode sem razão aparente no último episódio? Bora!”.
Depois de lhe assassinar a ideia de que era o melhor final possível para a série uma das personagens explodir sem razão aparente nos últimos minutos, começámos a desenvolver as personagens. A acertar o tipo de humor. O que queríamos contar com a história. E ainda discutimos mais uns filmes de acção dos anos 90.
Sem sabermos, eramos dois putos de 20 anos a tirar um curso de escrita, que estavam a colocar em ficção os seus medos e inseguranças. Estávamos a fazer terapia através da escrita e do humor. E estávamos também atrasados para a aula.
Depois de dezenas de cafés, de folhas word com um cursor irritante a piscar, de gargalhadas sobre assuntos que envergonhariam as nossas avós e de engates de empregadas de mesa, fomos construindo o que é hoje chamado de “Desempregados”.
Podia ser apenas uma série de comédia com 13 episódios. Não é. Podia ser apenas a nossa primeira experiência totalmente a solo na área da escrita para televisão, mas não é. Podia ainda apenas ser uma desculpa para mantermos a amizade que tínhamos na faculdade e que queríamos que durasse, mas não é. É o prazer de escrever, totalmente do 0, uma ideia que acarinhamos e que queremos ver ter sucesso na vida.
O “Desempregados” nasceu há uns anos largos mas apenas agora está registado no IGAC. Tendo como pais Guilherme Fonseca e João Canelo é, sem sobra de dúvida, o primeiro filho saudável nascido de uma relação entre dois argumentistas parvos, armados em engraçados que queriam mudar o humor em Portugal. Ou pelo menos abaná-lo ao ponto de ficar tonto.
Temos os 3 primeiros episódios escritos. A série toda estruturada. E contactos para lhe tentar dar forma em televisão. Fora isso, existe apenas o sonho e a gigantesca tumescência intelectual que ambos sentimos quando olhamos para a nossa criação.
Guilherme Fonseca - “o homem da estrutura e do bom senso” - e João Canelo - “o canhão de milhentas ideias disparatadas e brilhantes” – já podem um dia partir deste mundo que deixaram produto de qualidade para mostrar. E um jogo de ping-pong por acabar.
Monday, March 15, 2010
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3 comments:
folhas word? final draft. celtx, movie magic screenwriter...
ah e boa sorte com esse projecto
Antes de mais, já que é a primeira vez que comento em qualquer post, digo já.. adoro o humor deste blog. Não há como não rir à medida que se vai lendo cada post.
Agora passando ao post..
Porque é que não me admiro nada com essa mesma hipótese do João ter tido a ideia da explosão final? (João, se leres, ahmm.. paciência haha)
E, em relação ao vosso primeiro filho, parabéns. Tem realmente o certo tipo de humor!
É incrivel quando pensamos que já fez um ano desde que começámos a trabalhar na série ao longo de tantas tardes de cafés e ideias malucas. Fico ainda mais contente quando sei que foi um projecto que foi evoluindo e melhorando à medida que o iamos trabalhando. Mas, acima de tudo, por se ter tornado em algo que adoramos e que iremos lutar com todas as nossas forças.
Eu tenho mesmo muito orgulho no nosso filho, Gui. E digo-o por mais homossexual que isso possa parecer (ainda mais se existir alguém que vá primeiros aos comentários antes de ler o texto todo). Agora é só prepará-lo e fazê-lo entrar na melhor escola da zona, ;)
Um grande "bom trabalho" para nós, bom amigo!
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