“Óscares 2011″ – …o acidente na faixa contrária da auto-estrada
CONTRA PICADO/GF – A sensação que eu tive ao ver os Óscares deste ano foi a mesma de estar a atingir o 17º orgasmo de seguida, sentado na cama da Monica Vitti, ao som de Lou Reed tocado pela orquestra filarmónica de Viena, enquanto cantoras líricas me recitam os “Cahiers Du Cinéma”. A sério. Ver os Óscares este ano deu-me exactamente a mesma sensação de perda de virgindade de quando vi o “Persona” do Bergman pela primeira vez. Imagino que este seja o prazer que um português tem em dia de saldos. Ou de um taxista numa happy hour. É indescritível. Ver aquela gente falhar tão redondamente, faz de mim um indivíduo sádico, mas um indivíduo sádico com uma erecção. A maneira tão bela como um evento milionário se despenhou numa poça de falhanço, desconforto e incompetência devia fazer com que o dia 27 de Fevereiro fosse para sempre feriado. Tudo começou com os apresentadores. Foram deliciosamente maus. É que o texto já era mau. Pegar num texto mau e estragá-lo ainda mais é muito difícil e só pode ser visto em novelas portuguesas.
A cada piada que eu ouvia e ninguém se ria, mais eu batia palmas, saltava no sofá e acordava vizinhos. E até houve tempo para uma homenagem ao La Féria. Sim, porque houve transformismo. Se julgavam que as dietas eram o ponto mais baixo da degradação hollywodesca, não viram este momento. É que se há quem tenha desmaiado ao ver o filme “127 Horas”, na cena em que James Franco corta o próprio braço, deve ter havido quem tenha querido desmaiar no momento em que ele entra na cerimónia vestido de mulher. Ele, por seu lado, pareceu mais à vontade do que com um membro preso debaixo de um calhau. Foi tudo perfeito. Talvez só teria sido melhor se todos tivessem comigo canapés e tivessem apanhado uma desintoxicação alimentar por causa disso. Mas não quero abusar. Não mudava nada. Nenhuma linha ao discursos vazios. Nenhuma fralda ao Kirk Douglas. Nenhuma nota desafinada à Celine Dion. Durante anos vi os Óscares sob o efeito de estupefacientes, álcool e xarope para a tosse, na presença de alguém sóbrio que me impedisse de me matar, caso eu tivesse vontade. Este ano, incrivelmente, não foi preciso. Nem sequer adormeci. Ou vomitei pedaços do jantar na minha própria boca. Terei para sempre esta cerimónia gravada num dvd, não vá precisar de salvar algum suicida, mostrando-lhe que há sempre alguém que merece mais saltar de um prédio e embater violentamente com um sobrolho num passeio.
As seen on O Indesmentível.
Thursday, March 03, 2011
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