(Tudo o que vocês vão ler é verdade. Juro pela alminha da jornalista envolvida.)
Estando a trabalhar no Inimigo Público Tv e a escrever para o Indesmentível a minha capacidade e discernimento de lidar com a linha entre a ficção e a realidade está a morrer lentamente. O meu trabalho é simples. Pego em factos, situações noticiadas e dou-lhes um ângulo cómico. É para isso que me pagam e é isso que me dá erecções intelectuais. Para já, só intelectuais, sim.
Mas diariamente vemos casos em que a realidade, de facto, supera a ficção. Coisas, palavras, ideias, frases, acontecimentos, decisões que de tão loucas e "fora", nos fazem duvidar se são verdade ou ficção. É uma profissão ingrata esta que tenho. Trabalho 10 a 12 horas por dia a escrever e gravar disparates para depois, um Paulo Futre em 6 minutos - e sem querer - ser muito melhor do que eu.
Mas se acontece um telejornal sério fazer um disparate cómico - tipo, sei lá, achar que o IVA de um carro e não de um desporto é que vai descer - o inverso também acontece. E isso ainda assusta mais. O erro resvalar do sério para o engraçado é simples e fácil de acontecer. Basta um estagiário que escolha mal a imagem de um GOLF. Ou um ex-jogador snifar mais uma linha. Passar do cómico para o sério é que é mais difícil. Achava eu.
Levar-se uma coisa cómica a sério é muito mais perigoso e sério do que levar-se algo a séria a brincar. E aconteceu-me. Indirectamente. E felizmente - sempre dá para rir. Eu explico. Há uns meses soube-se que alunos universitários estão desde o verão à espera do dinheiro das bolsas de estudo que ganharam. Então, para o Indesmentível, escrevi uma notícia sobre Josué Caraça, um idoso de 80 anos que recebe o valor de uma bolsa de estudo com 60 anos de atraso. Chama-se comédia e este exemplo emprega algo chamado "exagero".
Ontem, uma jornalista de um canal generalista, produtora num programa da manhã, apresentado por uma senhora que tem decibéis de uma claque de futebol, descobriu o texto. Será que se riu com ele? Que achou a pandega que fiz à actualidade cómica e jovial? Não.
Pediu o contacto do Josué para o levar ao programa da senhora dos decibéis.
É assustador que alguém leia o texto e o ache real. Quer dizer que a pessoa interessada no contacto não tem, nunca teve e nunca terá, sentido de humor. E isso, no fundo entristece-me. Não porque haja uma data de piadas das quais ela não andará a rir a "bandeiras despregadas" mas porque é menos público que eu, como humorista, tenho para o meu trabalho. Pelos menos para rir e não para o levar a sério.
Leiam a notícia em questão e digam-me se não era de levar um velhote (um actor pago e muito bom) ao programa para reivindicar o dinheiro do cheque-bebé que lhe estão a dever desde o terramoto de 1755.
Idoso de 83 anos recebe bolsa de estudo com 60 anos de atraso
Já se riram dos meus disparates antes.
Levarem-nos a sério, nunca tinha acontecido.
Friday, March 25, 2011
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1 comment:
... e os decibéis são inversamente proporcionais ao QI pelos vistos.
FDX.
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