Os Santos estavam do meu lado

Foi um homem que me fez ganhar a noite dos Santos Populares.
Mas antes que me tomem por homossexual com fraca vida sexual, deixem-me começar pelo início...

Nunca tinha ido à noite dos Santos. Tinha ouvido falar. Muito. E até visto alguns videos de envergonhar freiras em telemóveis modernos, mas nunca tinha ido. Haviam histórias, promessas e combinações... e lá fui eu aventurar-me.

Primeiro deixe-me dizer que pela primeira vez vi transito humano. Eu juro que naquelas ruas pequenas, com tanta gente ali metia parada só a tirar fotografias, se eu tivesse uma buzina, buzinava, uma janela, abria-a, e um dedo do meio, usava-o. Eu tenho um dedo do meio. Não o usei. Mas que é frustrante e claustrofóbico estar parado no meio de uma multidão, é. Ainda por cima, imaginem o colombo no dia de natal. Peguem em todas essas pessoas, multipliquem por 5 e deixem-nas à solta todas no mesmo bairro lisboeta. São os Santos. E isto sem casas de banho.

Sim, porque os Santos só estão a uma casa de banho portátil de distância de serem a melhor noite de lisboa. Não só se comemora a cidade em si, com pompa e circustância, como se enche essa mesma cidade de mulheres bonitas, cerveja e animação. Sim, porque assistir a três cenas de pancada nos mesmos metros quadrados nas mesmas quatro horas é o que eu chamo de animação. Da melhor. É como assistir ao "Tranformers 2: revenge of the fallen and drunk" ao vivo. A metros de distância de vocês. Quase tão de perto como a distância a que estão mulheres de cócoras e homens de costas para a rua a soltarem a cerveja que andam a beber. Pronto, festejar a cidade com música e animação tudo bem. Pintá-la com urina já me parece incongruente. Mas o que tem de ser tem muita força. E mau cheiro.

A minha noite estava óptima. Reencontrar ex namoradas, velhos amigos que nos falam , velhos amigos que nos ignoram e despacham e até fazer novas amizades é sempre um bom plano de noite. Até ao ponto em que algo inesperado acontece. Eram já 5 da manhã. Quase seis. Não sei exactamente porque na altura o meu relógio já não parava há muito tempo queito no meu pulso. O palhaço. Estava a descer a rua da sé, a meio de uma aposta parva e divertida com dois amigos, quando ouço: "Guilherme?". Pensei que seria outro amigo de infância a pavonear-se com álcool. Não. Era um total desconhecido.

"Olá. Eu sou do site http://www.diegabe.blogspot.com/ e adoro o teu trabalho. Leio todos os teus textos." Foda-se, que desta não esperava. Eu não sou ninguém. Para além dos 250 amigos no facebook, dos 250 seguidores do twitter e das dezenas de pessoas que viram o Sempre em Pé e ainda se lembram do rapaz nervoso com cara de parvo, eu sou tão importante como o homem que vai limpar toda aquela urina nas ruas de alfama amanhã de manhã. Honestamente sem palavras, orgulhoso e surpreendido continuei a conversar com ele. "Leio todos os teus textos online e deixa-me dizer-te, espero que não leves a mal, que até me inspiraste a escrever uns textos meus." Foda-se, que desta ainda estava menos a espera.

Uma coisa é dizerem-nos "Pá, tens piada. Curti da tua cena". É óptimo e comum no final de algumas actuações. Mas dizerem-nos que gostam e que até os inpirarmos a escrever é uma sensação inacreditável. Sem igual mesmo. Caguei para "orgasmos" e "mijar com imensa vontade". Sabermos que um texto nosso, soturno e solitário online, é apreciado e inspirou alguém a escrever coisas, é uma sensação totalmente incrível.

No meio de milhares de pessoas encontrei alguém que me reconheceu, aprecia o meu trabalho e mais importante, teve vontade de escrever por minha causa. Aqueles segundos de conversa ao lado da sé valeram por todas as horas que passei a escrever textos, a imaginar temas, a duvidar do meu humor e a reescrever parágrafos.

Muito, muito obrigado ao meu amigo repentino e cibernético pelas palavras que me disse e porque, no fundo, me deu ainda mais vontade de escrever. Parece que "uma mão escreve a outra"...

gui