Como reage um cómico a um suicídio?

Falemos asério...

Para dizer a verdade, a delicadeza deste texto contrasta logo na “dureza” do título. E acho sinceramente que é culpa da palavra “suicídio”, por ser bruta, dura e crua. Dizê-la é quase tão doloroso como vivê-lo de perto. Hoje fui ao funeral de um amigo, colega de turma e companheiro (vitoriosos) de matraquilhos, que decidiu, na passada quinta-feira, acabar com a própria vida. Quanto a isso há pouco a dizer e muito a tentar “engolir”, até porque para nós, “amigos de turma”, foi bastante repentino, e nada fazia adivinhar. Hoje fizemos aquilo que conseguimos para nos despedir. Fiz aquilo que consegui…

Mas aquilo que me deu vontade de escrever não foi tanto a viagem pessoal que tenho de fazer, sozinho, mas sim a minha parte optimista e humorista que tem de absorver o conceito “suicídio”, e o meu choque com esta realidade pode também vir desta minha postura de vida. Face a um suicídio, um pessimista poderá dizer “eu já sabia…”, mas um optimista diz simplesmente “porquê?” e fica com cara de parvo. Na minha mente imberbe, completamente inculta no mundo da psicologia e nos cantos obscuros da “depressão”, acho que uma piada, uma palavra na altura certa, ou um sorriso mais que sincero, podem fazer a diferença… Repito: “imberbe”.

Como cómico, ou “ainda projecto disso”, é difícil mas um processo engraçado ver qual o poder da comédia, ou falta dela. Não sei qual é, e duvido que sejam assim tantos os que têm alguma noção, mas a relação de um cómico com a tristeza é quase tão grande como a que tem com a alegria. É praticamente senso comum que muitos cómicos o são por terem tido infâncias ou momentos menos bons, por terem descoberto no riso um conforto especial. O Jay Leno dizia que começou a fazer comédia quando via mãe triste e ia fazer caretas para a alegrar… Tem de existir um equilíbrio, senão a perda desse mesmo balanço empurra as pessoas para um extremo. Se assim não fosse não era precisa a “ajuda” etérea das respostas “dadas” pelas religiões, ou os milhares de livros de auto-ajuda, que centenas de tricentenários procuram.

Tenho de andar a passos de bébé. Uma depressão é uma doença, há que reconhecê-lo, e como nunca passei por isso é-me impossível continuar a divagar num tema que desconheço. Perdoem a confissão tosca de quem tem de crescer devagarinho. E não querendo acabar com uma tirada pseudo-fiosófica, acho que a vida é feita de sorrisos. Venham tarde, cedo, numa noite alegre ou numa tarde marcante, quando estes começam a desaparecer, custa-nos a todos…

Guilherme Fonseca