Friday, November 20, 2009

Obrigado, Henry

Obrigado, Henry.

Obrigado por nos mostrares a todos que o futebol ainda é um desporto menor.
A Federação Portuguesa de Futebol empacotou 10 milhões de euros por se ter qualificado para o Mundial na África do Sul. Não sei se o valor é variável mas suponho que a Irlanda tenha perdido esse mesmo valor ao mesmo tempo que perdia o jogo com a França. E por isso, obrigado Henry, a ti e à tua valiosa mão esquerda de 10 milhões de euros, por nos mostrares que o futebol, desde 1986, que está exactamente no mesmo estado de cegueira.

Os valores dos passes sobem, os jornais vendem, os jogadores pontapeiam a gramática e os treinadores trocam de clubes, mas o desporto, como é jogado e vivido, está na mesma.
Eu sei que o “Futebol” sem discussão à segunda de manhã ao lado da máquina do café não é “Futebol”, mas digam isso a um Irlandês. E digam-no com a mesma cara com que a FIFA disse hoje de manhã, do alto da sua prepotência: “O jogo França - Irlanda não será repetido. As decisões tomadas pelos árbitros durante o jogo são as decisões finais.” Digam-no com o mesmo chauvinismo e com a mesma arrogância de quem não percebe que uma câmara, mesmo uma daquelas de 200 euros da Worten, melhorava o futebol. Melhorava-o apenas na modesta quantia de 10 milhões de euros.

Sim, defendo a tecnologia no futebol. Pela simples razão que gosto do desporto pelo desporto. Pelo remate, pela defesa, pelo passe e pelo corte. Não pela claque, pelo apito do árbitro ou pelo isqueiro na nuca do fiscal de linha.

É verdade que não sou um homem de futebol. Dêem-me 11 iletrados a chutar uma bola para uma baliza ou 11 iletrados com tatuagens a lançar a um cesto e eu escolho os tatuados em qualquer segundo. Mas também pela simples razão de que no basket já há câmaras. Há repetições. Há mudanças de decisão. Há aquilo a que eu carinhosamente gosto de chamar “bom senso”. Também há casos, verdade. Mas eu até já discuti por causa de um jogo de Pedra/Papel/Tesoura. Tivesse eu photo-finish da minha mão aberta e tinha ganho àquele punho fechado.

Falamos de Portugal e de como a corrupção/incompetência dos nossos profissionais de futebol continua a denegrir o espectáculo que é. Ouvimos falar disto em todos os 459826 programas de discussão de futebol e em todos os 9676289 fóruns de opinião pública na rádio. Mas a verdade é que o problema vem de fundo. Da total incapacidade do desporto “futebol” em avançar no tempo. Na total incapacidade do desporto “futebol” em provar que está no Séc. XXI e não na idade média. Na total incapacidade do “futebol” de ver Henry a ajeitar, duas vezes, a bola com a mão esquerda e ainda lhe pagar uma pequena fortuna à federação pelo gesto. Pelo “bom golo de cabeça”.

Por isso, obrigado Henry.
A tua sacanice fez uma de duas coisas.
Ou abriu os olhos a quem ainda não entrou na Worten com 200 euros na mão.
Ou afastou mais alguns milhares. Não do futebol. Mas da época retrógrada em que é jogado.

gui

2 comments:

Francisco Baptista said...

É sintomático de muito mais. O photo-finish não é aceite porque o platini gosta demasiado de baguettes, o audio-finish é totalmente ignorado nos tribunais. Como é que a FIFA tem a cara de pau de dizer que a decisão de um árbitro é irrevogável? Como é que as federações apuradas para o mundial têm a cara de pau de assobiar para o lado? Como é que os tribunais têm a cara de pau de achar que "toma lá quinhentos contos e vai às putas" é uma demonstração benemérita e não corrupção?

João said...

eu vivo praticamente sem futebol e não me faz falta nenhuma. Lá vejo os do Boavista e os de Portugal.

Prefiro ver um jogo de futebol de 5 na Universidade do que estas palhaçadas ... enfim. Só ontem vi o lance e já nem esboço quase reacção ... apenas pena de quem continua fanático.