CONTRA PICADO/GF – A sensação que eu tive ao ver este filme foi a mesma de ter o corpo todo amarrado com luzes de natal, a apanhar choques eléctricos a cada 3,57 segundos, pendurado de cabeça para baixo no tecto da Assembleia da República, enquanto os deputados diziam todos em coro “Casamento homossexual? Não neste Portugal!” ao som da música da Popota cantada por Armando Vara. Faltam trinta e seis dias. Trinta e seis! Faltam trinta e seis dias para o Natal, aquela época cínica e industrial em que as famílias gastam dinheiro uns nos outros, não por amor ou carinho, mas por obrigação e saldos. Faltam trinta e seis dias para nos fecharmos todos numa sala, encostados à lareira e começarmos a ver quantos pares de meia e de estalos conseguimos recolher de todos os nossos familiares. Sim, porque o Natal é a época do ano em que as famílias se aturam e endividam mas não se sentem tão mal com isso. Afinal de contas, “os gastos são para os outros”. Mesmo quando o plasma de 30 polegadas que demos ao cão vai estar na nossa sala. A ler os nossos DVD’s. Ou ouvir os nossos berros enquanto a nossa selecção nacional de futebol consegue desvalorizar-se mais depressa que a Euribor.
Uma coisa são os dirigentes de câmara terem de mostrar trabalho e pendurarem enfeites de natal a partir de Agosto. Outra são os filmes de cinema referentes à época natalícia começarem a serem lançados trinta e seis dias antes. Há muito tempo que víamos em Hollywood uma tremenda disfunção eréctil mas só agora lhe topei a ejaculação precoce. “Um Conto de Natal” não só é mau como vem cedo demais. A semana passada estreou um filme chamado “2012”, esta semana estreia um filme de Natal, para a semana só pode estrear um filme chamado “Na tua cara, Nostradamus!” Não admira que a personagem principal (apesar de ser feita pelo “Jim-eu-comecei-a-carreira-a-falar-com-as-nádegas-Carrey) seja um mal disposto sem paciência para a época de Natal. Admira sim ainda ninguém ter percebido que Robert-eu-levo-coisas-ao-futuro-Zemeckis só faz cinema para dar trabalho a Michael J. Fox. É uma espécie de favorecimentos à la “Face Oculta” mas com factores mais “tremidos” pelo meio. A mim só se me oferece dizer mais uma coisa. Dar dinheiro pelo bilhete disto é aceitar duas coisas. Que os actores são dispensáveis e substituíveis por “bits”. E que o Natal não é quando um homem quiser mas sim quando “Hollywood” mandar.
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