Num jogo entre o Barcelona e o FCPorto? Estou pelo furacão Irene.
gui
Saturday, August 27, 2011
Tuesday, August 23, 2011
Verdade absoluta #100
Chegámos à última semana de Agosto.
Que deveria chamar-se "a última semana de t-shirts lavadas".
(Nem acredito que já escrevi 100 Verdades Absolutas. Depois do Murphy haverá a Lei de Gui.)
gui
Que deveria chamar-se "a última semana de t-shirts lavadas".
(Nem acredito que já escrevi 100 Verdades Absolutas. Depois do Murphy haverá a Lei de Gui.)
gui
C/Kapital
Por momentos não percebi se a notícia era sobre a Líbia ou as discotecas lisboetas.
A legenda só dizia "rebeldes já controlam a capital".
A legenda só dizia "rebeldes já controlam a capital".
Verdade Absoluta #99
Fico sempre sem gasolina no carro e bateria no telemóvel ao mesmo tempo.
Ainda bem que não tenho um pacemaker.
gui
Ainda bem que não tenho um pacemaker.
gui
Sunday, August 21, 2011
ÚLTIMA HORA
Novo Top 3 dos maiores perigos para a Humanidade:
-doenças infecciosas;
- catástrofes naturais;
- Palcos de concertos.
-doenças infecciosas;
- catástrofes naturais;
- Palcos de concertos.
3 - 2
Isto é típico dos brasileiros. Há anos que as mulheres de lá nos deixam acordados a noite toda para no fim nos ficarem com tudo...
gui
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Saturday, August 20, 2011
Simile
O que é que o Aeroporto e o IPO têm em comum? Terminais.
Friday, August 19, 2011
Fringe
Aos católicos dizem-lhes que quando morrerem - e depois de se portarem bem, claro - que vão para o paraíso, um sítio onde toda a família deles que já morreu lá está à espera, de braços abertos.
Aos muçulmanos dizem-lhes que quando morrem - e depois de se portarem mal, claro - que vão para o paraíso, um sítio onde todas as virgens que eles quiserem lá estão à espera, de pernas abertas.
Aos comediantes não dizem nada sobre o momento em que eles morrem. Mas eles também têm um paraíso. Chama-se Fringe, dura todo o mês de Agosto, é em Edimburgo e tem milhares de espectáculos de comédia à espera deles, de portas abertas.
Este ano eu fui. Não bebi uma cerveja aqui. Não vi um filme no cinema ali. Escrevi que me matei por - e para - todo o lado e lá fui eu gastar o dinheiro poupado na Escócia. E valeu cada pence.
Com 1400 espectáculos diários não se pode dizer que "não se sabe bem o que se vai fazer hoje". Sabe-se. Só não se tem a certeza de onde e ver quem, na verdade. Há demasiados tipos de espectáculos, em demasiados sítios diferentes. Edimburgo é pequena e rebenta pelas costuras de pessoas, eventos e mini-saias vestidas por Inglesas durante Agosto. Há dezenas de pessoas a forçarem-nos panfletos para a mão, a convencerem-nos de espectáculos que vamos perder e não devíamos. Escadarias e paredes perdem a cor original de tão tapadas que estão de posteres e cartazes. E depois há as salas. Eu vi espectáculos em salas de conferências para 600 pessoas, bares para 80, salas de aula para 60, caves para 30, arrecadações para 15 e o interior de uma ponte para 100. Mesmo.
Edimburgo é uma espécie de orgia constante. A qualquer momento uma pessoa pode entrar num bar ou abrir uma porta e estar dentro de um espectáculo de comédia, música, magia, teatro ou dança. Há de tudo. Em, literalmente, todo o lado. Gosto de pensar que estive em Edimburgo a ver espectáculos e que pelo meio tive de ir parando para comer, apanhar chuva e beber copos em discotecas repletas de pessoas que precisavam de estar dentro de discotecas. Quando eu digo que há espectáculos por todo o lado, podem ser marinheiros a dançar Riverdance, bêbados, ou inglesas a dançarem só de sutiã vestido. Acontece quando os britânicos bebem demais. Nós agradecemos.
Estive por lá 4 dias, de Domingo a Quinta, e tinha como objectivo comer, dormir e ver stand-up comedy. Consegui. Mesmo que não quisesse ir ser difícil. Há espectáculos de 16 libras a 0. Sim, 0. O espectador entra na sala, vê o espectáculo e no fim decide se quer dar umas moedas ao artista ou sair da sala envergonhado e viver com a culpa para sempre. Acho que ainda não disse isto mas... há de tudo.
Vi espectáculos caros de grandes estrelas. Vi artistas que nunca tinha ouvido falar. Vi stand-up grátis que adorei. Vi magia, mímica cómica, música e críticas a notícias. Até vi um evento privado no qual apenas se entrava de palavra passe. Basicamente, aproximei-me de uma porta e tive de dizer a um jovem - que não desfez até ao momento final - "i promise i will not have a boner". E ele deixou-me entrar. Deixo o mistério se depois tive ou não.
O ambiente é óptimo e respira-se boa onda e comédia entre cada golo de pint. Fiquem sabendo que maior parte dos artistas espera no final do espectáculo à porta da sala, para agradecer e apertar a mão aos espectadores. Conheci o Dave Gorman, que me assinou um dvd e me disse que "Guilherme" não era assim tão difícil de dizer, e o Tom Green. Sim, o americano. Que passou pelo meu grupo e perguntou - de forma estranha e 4 vezes seguidas - "Are you cool? Everything ok?". Foi estranho. Mas era o Tom Green.
Espero que a lista de artistas, aqui por ordem cronológica, diga tudo:
- Caroline Maybe's One Minute Silence
- Markus Birdman Dreaming
- Stand Up Late
- Dan Willis RadioHead
- Dan Willis Inspired
- The Boy With Tape on His Face
- AAA Stand-up Late
- Todd Barry: American Hot
- Sammy J and Randy: Ricketts Lane
- Ed Byrne: Crowd Pleaser
- Midnight Laughzzzz
- Jimmy McGhie: Artificial Intelligence
- The Free Daily Topical Show
- Dave Gorman's Power Point Presentation
- Barry & Stuart: the Show
- Barry & Sturat: the Tell
- Sammy J: private event recording
...e em 90 horas de festival.
Uns foram maravilhosos. Outros bons. Outros surpreendentes. Alguns... interessantes.
Mas nenhum me tirou a vontade de, para o ano, morrer outra vez e ressuscitar uns dias depois.
Sei que tenho um paraíso à espera.
Aos muçulmanos dizem-lhes que quando morrem - e depois de se portarem mal, claro - que vão para o paraíso, um sítio onde todas as virgens que eles quiserem lá estão à espera, de pernas abertas.
Aos comediantes não dizem nada sobre o momento em que eles morrem. Mas eles também têm um paraíso. Chama-se Fringe, dura todo o mês de Agosto, é em Edimburgo e tem milhares de espectáculos de comédia à espera deles, de portas abertas.
Este ano eu fui. Não bebi uma cerveja aqui. Não vi um filme no cinema ali. Escrevi que me matei por - e para - todo o lado e lá fui eu gastar o dinheiro poupado na Escócia. E valeu cada pence.
Com 1400 espectáculos diários não se pode dizer que "não se sabe bem o que se vai fazer hoje". Sabe-se. Só não se tem a certeza de onde e ver quem, na verdade. Há demasiados tipos de espectáculos, em demasiados sítios diferentes. Edimburgo é pequena e rebenta pelas costuras de pessoas, eventos e mini-saias vestidas por Inglesas durante Agosto. Há dezenas de pessoas a forçarem-nos panfletos para a mão, a convencerem-nos de espectáculos que vamos perder e não devíamos. Escadarias e paredes perdem a cor original de tão tapadas que estão de posteres e cartazes. E depois há as salas. Eu vi espectáculos em salas de conferências para 600 pessoas, bares para 80, salas de aula para 60, caves para 30, arrecadações para 15 e o interior de uma ponte para 100. Mesmo.
Edimburgo é uma espécie de orgia constante. A qualquer momento uma pessoa pode entrar num bar ou abrir uma porta e estar dentro de um espectáculo de comédia, música, magia, teatro ou dança. Há de tudo. Em, literalmente, todo o lado. Gosto de pensar que estive em Edimburgo a ver espectáculos e que pelo meio tive de ir parando para comer, apanhar chuva e beber copos em discotecas repletas de pessoas que precisavam de estar dentro de discotecas. Quando eu digo que há espectáculos por todo o lado, podem ser marinheiros a dançar Riverdance, bêbados, ou inglesas a dançarem só de sutiã vestido. Acontece quando os britânicos bebem demais. Nós agradecemos.
Estive por lá 4 dias, de Domingo a Quinta, e tinha como objectivo comer, dormir e ver stand-up comedy. Consegui. Mesmo que não quisesse ir ser difícil. Há espectáculos de 16 libras a 0. Sim, 0. O espectador entra na sala, vê o espectáculo e no fim decide se quer dar umas moedas ao artista ou sair da sala envergonhado e viver com a culpa para sempre. Acho que ainda não disse isto mas... há de tudo.
Vi espectáculos caros de grandes estrelas. Vi artistas que nunca tinha ouvido falar. Vi stand-up grátis que adorei. Vi magia, mímica cómica, música e críticas a notícias. Até vi um evento privado no qual apenas se entrava de palavra passe. Basicamente, aproximei-me de uma porta e tive de dizer a um jovem - que não desfez até ao momento final - "i promise i will not have a boner". E ele deixou-me entrar. Deixo o mistério se depois tive ou não.
O ambiente é óptimo e respira-se boa onda e comédia entre cada golo de pint. Fiquem sabendo que maior parte dos artistas espera no final do espectáculo à porta da sala, para agradecer e apertar a mão aos espectadores. Conheci o Dave Gorman, que me assinou um dvd e me disse que "Guilherme" não era assim tão difícil de dizer, e o Tom Green. Sim, o americano. Que passou pelo meu grupo e perguntou - de forma estranha e 4 vezes seguidas - "Are you cool? Everything ok?". Foi estranho. Mas era o Tom Green.
Espero que a lista de artistas, aqui por ordem cronológica, diga tudo:
- Caroline Maybe's One Minute Silence
- Markus Birdman Dreaming
- Stand Up Late
- Dan Willis RadioHead
- Dan Willis Inspired
- The Boy With Tape on His Face
- AAA Stand-up Late
- Todd Barry: American Hot
- Sammy J and Randy: Ricketts Lane
- Ed Byrne: Crowd Pleaser
- Midnight Laughzzzz
- Jimmy McGhie: Artificial Intelligence
- The Free Daily Topical Show
- Dave Gorman's Power Point Presentation
- Barry & Stuart: the Show
- Barry & Sturat: the Tell
- Sammy J: private event recording
...e em 90 horas de festival.
Uns foram maravilhosos. Outros bons. Outros surpreendentes. Alguns... interessantes.
Mas nenhum me tirou a vontade de, para o ano, morrer outra vez e ressuscitar uns dias depois.
Sei que tenho um paraíso à espera.
Saturday, August 13, 2011
Não sou eu, és tu
O Facebook está-me a sugerir ser fã da JSD de Benavente. Agora sim, percebo o sucesso do Google+.
gui
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Verdade absoluta #98
Por alguma razão, na minha vida as propostas de trabalho são como as mamas. Vêm aos pares e são apetitosas.
gui
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Friday, August 12, 2011
Redes (indis)sociais
Foi criada uma rede social para doentes com cancro. Chama-se Baldbook? Goodbye5? Ou Chemo+?
gui
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London Bridge Is Falling Down
Estes tumultos estão alastrar-se a mais territórios Ingleses. Temo agora por Vilamoura.
gui
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Dominick Strauss Kan't
Num Hotel em Cascais fui acordado por empregadas de limpeza portuguesas e percebi que se o Strauss Khan fizesse cá ferias, não tinha tido problemas.
gui
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Verdade absoluta #97
Sair à noite no Algarve é exactamente o inverso de estar em prisão domiciliária: quem não tem pulseira não vai a lado nenhum.
gui
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Verdade absoluta #96
Sabes que é Verão quando jantas segundo o fuso horário de Los Angeles.
gui
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Tuesday, August 02, 2011
2012
Israel. Rússia. Irlanda do Norte. Azerbeijão. Claramente, Portugal calhou no grupo dos "países com conflitos armados".
gui
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Monday, August 01, 2011
Crónica de um salto anunciado
"Não há qualquer razão para um ser humano saltar de um avião" diziam-me antes de eu ir saltar de um avião. Eu achava que havia várias mas nenhuma sem o avião estar a arder ou estando-se em tempo de guerra.
Não obstante. Eu saltei.
Andei o mês todo do meu aniversário a pedinchar essa coisa suicida e a minha família e namorada compraram-me a experiência. Não é querido? A ideia de que as pessoas que mais gostam de nós gastaram dinheiro para que nos atirem de um avião a 4200 metros de altitude? Eu ter pedido não é desculpa.
O trajecto até Évora foi feito com piadas sobre morte, música dos Mamonas Assassinas e mais piadas sobre morte. Pelo meio perguntamo-nos o que queríamos ter feito em vida que não fizemos. Respondi "sexo com duas mulheres". O que me deixou a pensar "ora aí está uma experiência a que A Vida É Bela se podia dedicar. Mas não. Só saltinhos de aviões e passeios de limusina. Palhaços."
Chegados ao local, a ansiedade começa a percorrer o nosso corpo mais depressa do que um shot de tequilha às 3h da manhã. Não que a ansiedade nos faça andar pela rua sem calças mas porque a dois quilómetros de distância de chegares ao hangar onde vais pagar para saltar já vês um aviãozinho lá em cima no ar a cuspir pessoas pequenininhas. Aquilo vais ser tu. 5 minutos depois chegas ao hangar e quem é a primeira pessoa que vês à porta? Um homem de cadeira de rodas. Recomeçam as piadas sobre a morte.
Chega a altura de o hangar imitar uma repartição de finanças e teres de preencher 57 formulários com os teus dados. Entregas a papelada a uma mulher demasiado bem disposta e apercebes-te que te dizem "preencha os papeis com calma. Tenha calma. Não há problema. Tenha calma" a cada duas frases. Mas ela acha que as pessoas têm medo de saltar de um avião ou de escrever a sua morada e número de BI a caneta azul?
Preenches tudo, entregas, tentam vender-te saltos mais altos, fotografias, vídeos e/ou pára-quedas suplentes por mais 120 euros com 73% de desconto sobre os decibeis dos teus gritos quando saltares. Numa salganhada de preços e promoções que parecem a feira da ladra, o avião que te vai cuspir aterra atrás de ti. Vestes um conjunto de arneses que te fazem sentir 159 quilos mais pesado - deve ser para chegares cá a baixo mais depressa - e começas a dar atenção ao pormenores mais pequenos. Apertar os sapatos. Bem. Tirar o relógio. É melhor. Aconchegar os testículos na engenhosa e medieval peça de roupa que tens vestida. Como nunca antes o tinha feito.
Chegas ao avião. Começas a perceber que as pessoas à tua volta estão a duvidar da sua sanidade mental. E tu começas a duvidar da tua porque não começas a duvidar da tua. Parece complicado mas faz sentido. Dão-te 17 minutos de instruções de sobrevivência em 3 minutos. Tentas decorar tudo como um puto de apontamentos na mão à porta de um exame. Asseguram-te que "lá em cima" te repetem tudo. Aconchegas os testículos. Entras no avião. Vais saltar e acabou.
Descolas. Suas. Aconchegas. Sorris de forma amarela. Suas. Respiras fundo. E recebes novamente as instruções. Por motivos de ordem mágica decoras tudo. Se a tua vida dependesse de um teorema de Pitágoras tinha-lo decorado antes do exame do 7º ano. Garanto. Apertado dentro de um avião com outras 12 pessoas prestes a apontarem a sua testa ao centro da terra, perguntas a que altitude estás. Não tens noção. É algo entre "bué" e "alto pa' caralho". Respondem-te 1000 metros. Sabes que vais saltar aos 4200. Suas. Aconchegas. Sorris de forma amarela.
E de repente chega a tua vez. Já viste 12 macacos a desaparecerem, sugados por uma porta de avião. Chlump. Não há um senhor de voz grossa a gritar "go, go, go!" como nos filmes. Há gente eléctrica porque já saltou 7000 vezes e gente a suar como um obeso mórbido num clube de strip sem ar condicionado porque nunca saltou. Chlump. Mais um. Chlump. Outro. Chlump. Saltou outro. E é a tua vez. Aproximas-te da porta. Olhas lá para baixo e pensas "ah, é daqui que o Google Maps tira as fotos". Ficas suspenso a 4200 metros de altura e tão depressa como pensas "que bem que eu estava agora no meu sof..." começas a cair. Em direcção ao planeta.
E é espectacular. Mágico. Frenético. Calmo. Mórbido. Sexual. Diferente. Estúpido. E único. É a sensação mais completa, calma e injustificada que alguma vez terás na tua vida. Se pensarem que passam 98% da vossa vida com a gravidade controlada em cima de terreno sólido, não soará estranho que 60 segundos a cair - perdão, a morrer - em queda livre, sem explicação, razão ou grito que vos valha, se sinta no sangue. E é maravilhoso. Em todo o sentido saboroso da palavra. Olhas para a frente e vês o pôr-do-sol. Olhas para baixo e vês risquinhos bem traçados no chão onde um homem diz que acaba o seu quintal e começa o do seu vizinho. Vês terra. Muita terra. Sentes o vento pelo corpo todo. Mas só isso. Vento. Continuas a cair. E a este ponto só queres continuar a cair. Pode ser que acertes numa piscina e não precises do pára-quedas ou assim.
E quando o teu corpo já vai a 200 km/h, de repente e sem aviso, os teus pés aparecem-te no campo de visão. Abriram o pára-quedas. Reduziste para uns 60 km/h, mais coisa menos coisa. Sentes todo e qualquer arnês espalhado pelo teu corpo a apertar. Agradeces a ti próprio teres aconchegado os teus testículos 736 vezes antes e durante o voo. Sugerem-te que conduzas tu o pára-quedas. Dizes que sim já que a este ponto uma luta homem a homem com um TGV parece-te boa ideia. A sobrevivência é uma coisa simples e divertida que, mesmo sem sabermos, gostamos de desafiar. E quando estás a pairar, a não sei quantos metros de altura, pequenino para todos os outros pacóvios que estão agora a chegar de carro para saltarem depois de ti, pendurado por um pára-quedas, a olhar para o horizonte, para o pôr-do-sol... percebes que qualquer coisa mudou.
Quando a pior coisa que te tinha acontecido na vida tinha sido cair de um quarto degrau de um escadote, passar por isto muda uma pessoa. E mesmo que soe, isto não é conversa delico-doce. Muda mesmo. Aqueles 60 segundos são melhores que os 120 de quando perdeste a virgindade ou aqueles 4 de quando ias levando com um autocarro descontrolado numa auto-estrada. Aqueles 60 segundos a cair são teus. Para sempre.
E assim sendo, aterras.
Estás novamente a obedecer à gravidade.
Tentas desentupir os teus ouvidos.
Aconchegaste mais uma vez lá em baixo.
Preparas-te para tentar explicar a todas as outras pessoas na tua vida o que acabaste de fazer.
E percebes que não há qualquer razão para um ser humano querer saltar de um avião.
Mas que tu o queres fazer outra vez.
Não obstante. Eu saltei.
Andei o mês todo do meu aniversário a pedinchar essa coisa suicida e a minha família e namorada compraram-me a experiência. Não é querido? A ideia de que as pessoas que mais gostam de nós gastaram dinheiro para que nos atirem de um avião a 4200 metros de altitude? Eu ter pedido não é desculpa.
O trajecto até Évora foi feito com piadas sobre morte, música dos Mamonas Assassinas e mais piadas sobre morte. Pelo meio perguntamo-nos o que queríamos ter feito em vida que não fizemos. Respondi "sexo com duas mulheres". O que me deixou a pensar "ora aí está uma experiência a que A Vida É Bela se podia dedicar. Mas não. Só saltinhos de aviões e passeios de limusina. Palhaços."
Chegados ao local, a ansiedade começa a percorrer o nosso corpo mais depressa do que um shot de tequilha às 3h da manhã. Não que a ansiedade nos faça andar pela rua sem calças mas porque a dois quilómetros de distância de chegares ao hangar onde vais pagar para saltar já vês um aviãozinho lá em cima no ar a cuspir pessoas pequenininhas. Aquilo vais ser tu. 5 minutos depois chegas ao hangar e quem é a primeira pessoa que vês à porta? Um homem de cadeira de rodas. Recomeçam as piadas sobre a morte.
Chega a altura de o hangar imitar uma repartição de finanças e teres de preencher 57 formulários com os teus dados. Entregas a papelada a uma mulher demasiado bem disposta e apercebes-te que te dizem "preencha os papeis com calma. Tenha calma. Não há problema. Tenha calma" a cada duas frases. Mas ela acha que as pessoas têm medo de saltar de um avião ou de escrever a sua morada e número de BI a caneta azul?
Preenches tudo, entregas, tentam vender-te saltos mais altos, fotografias, vídeos e/ou pára-quedas suplentes por mais 120 euros com 73% de desconto sobre os decibeis dos teus gritos quando saltares. Numa salganhada de preços e promoções que parecem a feira da ladra, o avião que te vai cuspir aterra atrás de ti. Vestes um conjunto de arneses que te fazem sentir 159 quilos mais pesado - deve ser para chegares cá a baixo mais depressa - e começas a dar atenção ao pormenores mais pequenos. Apertar os sapatos. Bem. Tirar o relógio. É melhor. Aconchegar os testículos na engenhosa e medieval peça de roupa que tens vestida. Como nunca antes o tinha feito.
Chegas ao avião. Começas a perceber que as pessoas à tua volta estão a duvidar da sua sanidade mental. E tu começas a duvidar da tua porque não começas a duvidar da tua. Parece complicado mas faz sentido. Dão-te 17 minutos de instruções de sobrevivência em 3 minutos. Tentas decorar tudo como um puto de apontamentos na mão à porta de um exame. Asseguram-te que "lá em cima" te repetem tudo. Aconchegas os testículos. Entras no avião. Vais saltar e acabou.
Descolas. Suas. Aconchegas. Sorris de forma amarela. Suas. Respiras fundo. E recebes novamente as instruções. Por motivos de ordem mágica decoras tudo. Se a tua vida dependesse de um teorema de Pitágoras tinha-lo decorado antes do exame do 7º ano. Garanto. Apertado dentro de um avião com outras 12 pessoas prestes a apontarem a sua testa ao centro da terra, perguntas a que altitude estás. Não tens noção. É algo entre "bué" e "alto pa' caralho". Respondem-te 1000 metros. Sabes que vais saltar aos 4200. Suas. Aconchegas. Sorris de forma amarela.
E de repente chega a tua vez. Já viste 12 macacos a desaparecerem, sugados por uma porta de avião. Chlump. Não há um senhor de voz grossa a gritar "go, go, go!" como nos filmes. Há gente eléctrica porque já saltou 7000 vezes e gente a suar como um obeso mórbido num clube de strip sem ar condicionado porque nunca saltou. Chlump. Mais um. Chlump. Outro. Chlump. Saltou outro. E é a tua vez. Aproximas-te da porta. Olhas lá para baixo e pensas "ah, é daqui que o Google Maps tira as fotos". Ficas suspenso a 4200 metros de altura e tão depressa como pensas "que bem que eu estava agora no meu sof..." começas a cair. Em direcção ao planeta.
E é espectacular. Mágico. Frenético. Calmo. Mórbido. Sexual. Diferente. Estúpido. E único. É a sensação mais completa, calma e injustificada que alguma vez terás na tua vida. Se pensarem que passam 98% da vossa vida com a gravidade controlada em cima de terreno sólido, não soará estranho que 60 segundos a cair - perdão, a morrer - em queda livre, sem explicação, razão ou grito que vos valha, se sinta no sangue. E é maravilhoso. Em todo o sentido saboroso da palavra. Olhas para a frente e vês o pôr-do-sol. Olhas para baixo e vês risquinhos bem traçados no chão onde um homem diz que acaba o seu quintal e começa o do seu vizinho. Vês terra. Muita terra. Sentes o vento pelo corpo todo. Mas só isso. Vento. Continuas a cair. E a este ponto só queres continuar a cair. Pode ser que acertes numa piscina e não precises do pára-quedas ou assim.
E quando o teu corpo já vai a 200 km/h, de repente e sem aviso, os teus pés aparecem-te no campo de visão. Abriram o pára-quedas. Reduziste para uns 60 km/h, mais coisa menos coisa. Sentes todo e qualquer arnês espalhado pelo teu corpo a apertar. Agradeces a ti próprio teres aconchegado os teus testículos 736 vezes antes e durante o voo. Sugerem-te que conduzas tu o pára-quedas. Dizes que sim já que a este ponto uma luta homem a homem com um TGV parece-te boa ideia. A sobrevivência é uma coisa simples e divertida que, mesmo sem sabermos, gostamos de desafiar. E quando estás a pairar, a não sei quantos metros de altura, pequenino para todos os outros pacóvios que estão agora a chegar de carro para saltarem depois de ti, pendurado por um pára-quedas, a olhar para o horizonte, para o pôr-do-sol... percebes que qualquer coisa mudou.
Quando a pior coisa que te tinha acontecido na vida tinha sido cair de um quarto degrau de um escadote, passar por isto muda uma pessoa. E mesmo que soe, isto não é conversa delico-doce. Muda mesmo. Aqueles 60 segundos são melhores que os 120 de quando perdeste a virgindade ou aqueles 4 de quando ias levando com um autocarro descontrolado numa auto-estrada. Aqueles 60 segundos a cair são teus. Para sempre.
E assim sendo, aterras.
Estás novamente a obedecer à gravidade.
Tentas desentupir os teus ouvidos.
Aconchegaste mais uma vez lá em baixo.
Preparas-te para tentar explicar a todas as outras pessoas na tua vida o que acabaste de fazer.
E percebes que não há qualquer razão para um ser humano querer saltar de um avião.
Mas que tu o queres fazer outra vez.
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