Thursday, June 16, 2011

London Ink

É verdade.
Fiz uma tatuagem.
Ou como lhe chamam as pessoas que já estão tatuadas, "a primeira".

No passado fim-de-semana fui a Londres e entre visitar museus, subir o London Eye e ver espectáculos de comédia, fui pagar a uma espanhola para me encher a perna de tinta. E não, não apanhei uma bebedeira. Parece que todas as tatuagens hoje em dia são feitas dessa maneira. Eu não bebi para fazer a minha. Bebi depois de fazer a minha. Parecendo que não é um espaço maior de tempo.

Mas apesar do impulso de a fazer no dia ter sido imediato, o desenho não foi. Tinha-o na cabeça há uns tempos e acho que é assim que convém. Quanto mais uma ideia para uma tatuagem amadurece na nossa cabeça, menos tempo estamos, na nossa velhice, a desculpá-la. Com a conversa do álcool e tal.

Querem vê-la? É linda.

Para quem se assustou, a fotografia foi tirada 24 horas depois de ter sido feito. Ou seja, a minha pele está a imitar um polvo obeso: inchada e a cuspir tinta. Com o tempo fica como as que vemos na Ana Malhoa, não se preocupem. Para quem não fala inglês, o que está escrito na pista de aterragem desflorestada que está a minha perna direita é "This is your life and it's ending one minute at a time." ou seja "Esta é a tua vida e está a acabar um segundo de cada vez". Fatalista? Pessimista? Alarmista? Não.

Muito pelo contrário. Foi escrita pelo Chuck Palahniuk, no livro/filme "Fight Club" e eu vejo-a como um carpe diem pós-moderno. É uma espécie de wake up call para a sociedade moderna. Mas não a fiz porque sinto que precise de um. Fi-la porque não quero nunca precisar de um. Com o tempo as pequenas formiguinhas calçadas de crocs que nós somos, tornamo-nos adultos e vamos adormecendo. Ficamos chatos, velhos, monótonos, sem sonhos, objectivos ou qualquer tipo de tesão. Porque é que só quando sabemos o tempo de descontos do jogo é que corremos mais para marcar um golo? Não podemos dar o máximo a partida toda?

A minha tatuagem não é mais do que um esforço do Guilherme de 24 anos para que o Guilherme de 54 anos nunca deixe de merecer a vida que teve - e que terá. Sim, porque o Guilherme de 24 anos quer ser ouvido através dos anos. É chato, está armado em rebelde e quer armar confusão com o de 54. Não quer que esse envelheça. Quero eternizar pelo tempo o prazer que tenho hoje em estar vivo.

Se estão a pensar fazer uma tatuagem, o meu único conselho é que pensem bem no desenho antes de o fazerem. E que tenham cuidado com o tatuador. Parecendo que não, ficar com a inabilidade de um mau profissional estampada na carne para todo o sempre, é coisa para chatear. Imaginem o que seria se a minha perna dissesse "This is your wife and it's ending one minute at a time."

Não era trabalhão ver-me obrigado só a casar com doentes terminais?

Eu, com 24 anos, acho que era.
Eu com 54, não sei. Vão ter de perguntar na altura.

2 comments:

gui.tattoo said...

Congratulations Mr. Gui !
Acredita que foi a primeira ;)

Bem-vindo ao clube...
Abraço e cuida bem disso, ok ?
;)

Gui said...

Muito obrigado, guilherme.

Claro que trato bem a tatuagem. Tenho feito exactamente como a tatuadora me mandou: o máximo de tempo possível com a tatuagem ao sol - quanto mais directo melhor; passar, duas a três vezes por dia uma lixa industrial na tatuagem; e verter algumas gotas de lixívia, azeite e tabasco misturadas com cerelac.

Vai ficar linda. ;)
gui