Eu recebo e envio dezenas de emails por dia.
É a maneira como o trabalhador moderno conversa de trabalho. Os nossos colegas já não "falam" de trabalho. Trocam "mails". Já não têm reuniões. Ficam de "enviar aquele relatório". Já não discutem assuntos. Colocam-nos em "CC".
Mas entre tanta trampa de trabalho às vezes aparece trampa pessoal. Entre pessoas que insistem que o tamanho do meu pénis não é suficiente e a Amazon que me sugere centenas de euros de produtos que eu possa - e quero - comprar, recebi um que me tocou profundamente.
Não reconheci o emissor. Ou emissora, neste caso. Era uma mulher chamada Isabel Palmilha - e logo eu que adoro apelidos que estejam relacionados com sapataria de Ballet. No entanto, e apesar deste apelido, foi o "Assunto" que despertou a minha atenção. Versava apenas "Meu Deus do Céu". Não que eu seja religioso mas há certas junções de palavras e/ou interjeições que despertam a minha atenção. Basicamente, eu abro emails cujo assunto sejam coisas que se eu ouvisse alguém dizer no meio da rua, eu olhava na mesma direcção que essa pessoa. E - aparte de "Grandas Mamas" ou "Cum Caraças!" - "Meu Deus do Céu" é uma dessas coisas.
Abri o email e percebi que me falava ao coração mais do que eu poderia esperar. Era pessoal intransmissível e começava a assustar-me.
"Olá!
Não sei por onde começar...
Hoje estava checando meus emails, e infelizmente havia algo que eu nunca gostaria de ter visto."
Já percebem porque é que não parei de ler? Não ter nenhum amiga brasileira não era desculpa para parar agora. Esta pessoa queria mesmo avisar-me de alguma coisa e eu tinha de saber o que era. O que é que a Isabel sabe que eu não? Não estava preparado.
"Eu sei que você a criou como uma princesinha, e deu tudo do bom e do melhor para ela.
Então me sinto na obrigação de te contar, é melhor saber por um amigo próximo do que por algum estranho.
Neste email, há várias garotas de idades variadas com o seio à mostra, é algo muito sério, e infelizmente ela está lá."
Foi nesta altura que agradeci a mim mesmo não ser daqueles snobs intransigentes que ignora os mails que não lhe interessam. Se eu não tivesse aberto o mail da Isabel - expressão só por si perigosa - eu nunca teria ficado a saber que tenho uma filha. E muito menos que essa mesma filha mostra as mamas em sites porno. Meu Deus do Céu. Ainda bem que há internet.
Antes mesmo de reconhecer esta filha que eu não sabia que tenho - ou de a procurar, intensamente durante 327 visualizações, no vídeo porno que vinha linkado no mail que a Isabel me enviou - tenho de dizer uma coisa. Se eu tenho (ou um dia tiver) uma filha, eu quero que ela seja uma badalhoca.
Pensem nisto. Entre uma púdica parva e uma badalhoca alcoólica e boazona, quem é que tem mais futuro neste mundo? Pois é. Estudos provam que as pessoas extrovertidas, bonitas e abertas à sua sexualidade e emotividade são as mais sucedidas na sua vida profissional e emocional. E eu não quero uma filha que case com o primeiro gajo que lhe faça sexo oral. Eu não quero que a minha filha passe a adolescência a estudar e a ficar em casa à noite para depois, aos 50 anos, se divorcie e ande a comer os amigos dos filhos (meus netos) para compensar uma juventude perdida. Eu quero uma filha feliz.
Mesmo que seja neste link, Isabel.
Por isso, obrigado pela preocupação, pelo tempo dedicado e pela atenção, Isabel Palmilha - adoro.
Obrigado por zelar pela minha filha, já que eu, aparentemente, sou um pai ausente e disfuncional.
Agora, se me permitem, tenho só de descobrir onde ela anda.
E pedir-lhe mais trabalhos do seu repertório, claro.
Friday, June 24, 2011
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