“RED – Perigosos” – …quando pensionistas falham a medicação
CONTRA PICADO/GF – O que faz um reformado no seu dia-a-dia? Eu digo-vos: alimenta pombos. Joga às cartas. Insulta crianças. Faz croché. Visita centros de saúde para pôr a conversa em dia. Dá audiências à TVI. Repete, cerca de 47 vezes por minuto, que a Júlia Pinheiro é “uma senhora de nível”. Muda de fralda. Dá mais audiências à TVI. Comenta que “aquele rapaz escurinho, do Ídolos, canta muito bem e parece ser uma pessoa de nível”. Telefona para fóruns de rádio sobre futebol e insulta toda a gente, incluindo o locutor. Muda novamente a fralda. E ocasionalmente, apenas ocasionalmente, alimenta pombos. Se há coisa que um pensionista não faz, é andar a disparar metralhadoras de calibre elevado. O mais perto que um pensionista está de alguma vez aleijar alguém é no supermercado quando acertam com o carrinho das compras nos calcanhares da pessoa a seguir na fila para pagar.
Não há qualquer verosimilhança nesta narrativa: agentes da CIA retirados que quebram a reforma para um último trabalho? Além da medicação e do osso da bacia, não há nada que um pensionista quebre. A população mais velha devia ser símbolo de nostalgia, de memórias perdidas, de revivalismo, de inocência perdida, não é de pancadaria da grossa sem o uso de bengalas. Haverá algum agente com mais de 65 anos que se lembre que cor de fio cortar numa bomba? Que se recorde de como montar e desmontar uma arma? Que consiga saltar seja o que for? Mesmo para cima de uma passeio. E ver a Helen Mirren num filme de acção? Depois de ter recebido um Óscar de melhor actriz no filme “A Rainha”? É tão fácil de aceitar como se amanhã eu ligasse a televisão e o Marco do Big Brother estivesse a receber o prémio Nobel da Literatura. Se querem ver o filme, vão. Aproveitem e levem o vosso avó, avô e tio avô que ainda julga que está a combater no Ultramar. Eles vão gostar de ir. Vão pôr o sono em dia. E sabem porquê? Porque eles sabem que atravessar fora de uma passadeira é mais perigoso que qualquer coisa que estes actores finjam que estão a fazer.
No que toca ao meu conselho cinematográfico, sigo a mesma linha editorial e menciono “Alka-Seltzerlipse”. O documentário tem 9 horas e meia de duração e acompanha uma semana num lar de terceira idade durante a qual um erro de um dos enfermeiros trocou a medicação a 783 internados. O descalabro alcançou tal proporção que 3 idosos morreram, 78 trocaram de identidade entre si, 321 testemunham ter visto Deus a jogar ping-pong com o Kurt Cobain e 1 acabou casado com o enfermeiro em questão.
As seen on O Indesmentível.
Friday, November 12, 2010
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