Saturday, March 17, 2012

Texto escrito para o site Hoje Não Vai Dar.

"No mundo há várias pessoas detestáveis como ditadores, racistas e assassinos em série. Mas há pessoas piores, que apesar de não tirarem a vida a ninguém com uma faca de queijo, conseguem massacrá-las de forma muito mais desumana. Essas pessoas são as que gostam dos seus próprios posts.

As redes sociais servem para socializarmos, em rede. Simples. Uma rede social depreende um contacto entre duas ou mais pessoas, seja o conteúdo dessa mensagem algo interessante, engraçado ou conversa sobre chuva, não interessa. Quando A fala, B pode responder, ignorar ou, na loucura da inovação tecnológica, “gostar”. E “Gostar” é o equivalente interpessoal ao momento em que reconhecemos o que a outra pessoa disse com um sorriso forçado, aquele que surge da mais pura solidariedade e educação. Em nenhum momento da interacção humana as pessoas reagem às próprias coisas que dizem. Nenhum ser humano que tenha a plenitude das suas funcionalidades intelectuais – ou seja, que não que janta por uma palhinha – se surpreende com o que diz ao ponto de “gostar”. Mesmo que não pensemos antes de falar, sabemos o que estamos a dizer.

Um indivíduo “gostar” do seu próprio “post” é um atentado humanitário. Se escreveram “gosto de roer as unhas dos pés depois de as cortar” é porque queriam escrever “gosto de roer as unhas dos pés depois de as cortar”. Onde está a surpresa disto? Gostar do próprio post é estúpido. É auto-bajulação idiota. É masturbação, mas de uma forma errada e anti-natural, que essa sim, devia provocar cegueira e pilosidade na mãos. Mas não pêlos daqueles fraquinhos que crescem nos mamilos, pêlos púbicos mesmo, que era para crescerem mais depressa e haver a possibilidade de apanharem chatos.

Só faz sentido gostarmos dos nossos próprios posts se formos bipolares. E mesmo nessa situação a pessoa que o fizer não deve ser mais convidada para festas. Só tendo duas personalidades distintas que não se conheçam mas que habitem no mesmo corpo é que A pode gostar de algo que A disse. Fora o caso de bipolaridade, o acto não é mais do que poluição cibernética. É como dizer “eu gosto de comer gelado” e imediatamente a seguir responder a si próprio “Pois gosto! Tenho toda a razão, sim senhor!”. Defendo que o acto devia ser punido com suspensão imediata do acesso ao Facebook. É como um carro, uma arma de fogo ou um saca-rolhas. Quem não sabe usar, não pode mexer porque se não pode ferir outras pessoas.

Leiam bem o que eu vos digo.
E fiquem sabendo que nem gostei do que escrevi."

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